Filhos do Império
Num sábado de agosto do primeiro ano do novo século, encontrei Emlyn Prevost em Brisbane. Fomos tomar um café no Comino's, para pôr a conversa em dia; algo preocupava Prevost, percebi, e não era o mercado de grãos.
- São os alemães - declarou de modo abrupto.
- Você esteve em Darling Downs - repliquei, tentando entender a observação. - Há muitos alemães assentados lá... desde a década de 1860, se bem me lembro. O que tem isso demais? São bons trabalhadores, diligentes.
- Sim, são bons - admitiu ele, cenho franzido. - Talvez bons demais.
Mastigou em silêncio o sanduíche que havia pedido, enquanto organizava as ideias.
- Não é somente em Queensland, ou na Austrália em geral, meu caro Hearson. Se você estiver no negócio de grãos e circular como eu, pelos países ao nosso redor, encontrará um crescente número de alemães. São nossos concorrentes diretos... são concorrentes diretos do Império Britânico.
- Talvez tenhamos que culpar Bismarck por isso - observei diplomaticamente, após tomar um gole do meu café.
- Ah, a unificação da Alemanha... isso ainda trará consequências para o mundo - avaliou Prevost em tom sombrio. - Ouso dizer que já as estamos sentindo agora, mas que a tendência é que as coisas piorem no decorrer de uma geração, se tanto.
- Qual a razão de tanto pessimismo? - Questionei.
- A taxa de natalidade - replicou Prevost. - Eu li num jornal... as alemãs estão parindo 36 crianças por ano para cada mil habitantes. E as inglesas? Apenas 29! Percebe onde isso vai chegar, Hearson?
- Os alemães irão nos suplantar em número - analisei.
- O Império Alemão é hoje o principal concorrente do Império Britânico em todo o mundo - prosseguiu Prevost. - Com mais alemães chegando à idade adulta, qual imagina que será o próximo passo deles?
Como eu permanecesse em silêncio, ele concluiu:
- Uma geração, Hearson. Aguarde uma geração para ver.
- [12-02-2020]