Kevin
Kevin estava trancado no banheiro como rotineiramente fazia todos os dias, durante o horário do recreio. Sentado sobre o vaso encardido- suspeitava que a muito não se via uma limpeza naquele local- balançava seus pés distraidamente. Escutava o barulho dos corredores, alunos gritavam de um lado para outro. Grandes e pequenos se misturavam na turba que se tornava os breves 15 minutos do recreio. Esse momento era o mais esperado por todas as crianças do mundo durante o ano letivo. Contudo para Kevin, esse momento era o de maior temor. Não que nas outras horas do dia fossem de pura felicidade, mas xingamentos e ofensas só o atingiam em sua alma. Esse tipo de machucado não deixava hematomas, não precisaria explicar para seu pai, um policial reformado, porque ainda não aprendera a se defender. Até podia ser muito maior que os outros garotos, mas era pesado e lento. A única vez que revidou foi levado para a diretoria. Um mês de detenção, acusado de bater em um garoto menor. Poxa ele pensava! Apanhava por ser maior, e se revidasse ficava de castigo por ser maior. Sua sentença seria essa, eternamente para todo sempre em sua vida, ser maior que todos os outros.
Essa era sua terceira escola em menos de 2 anos. Sua mãe achava que dessa vez seria diferente, que novas amizades fariam seu filho deixar de ser um garoto quieto e excluído, das outras pessoas normais. Pobre senhora, estava novamente enganada, o problema não eram as outras pessoas, era seu filho que nascera grandiosamente redondo. Contudo, essa seria sua última escola. Não teria que se adaptar a novos colegas novamente. Sua mãe não perderia mais tempo com documentações de transferência. Seu pai não precisaria mais fazer discursos, de como ele deveria se impor mais sobre as outras pessoas. Hoje ele se defenderia, todos iriam o respeitar.
Um grupo de cinco garotos entra no banheiro masculino. Eles estavam procurando pelo novato de sua turma. Um menino gordinho, que se trancava quieto no banheiro da escola. A conselheira escolar pediu para eles se aproximarem dele. Mostrar para ele que ali, ele teria grandes amigos. Dona Alvara, contou que em sua última escola, os garotos caçoavam dele, apenas por estar acima do peso. Sua mãe implorou por ajuda ao fazer sua transferência, seu filho estava deprimido por não ter amigos.
Dany e seus amigos, demoraram para achar o garoto. Era quase o fim do recreio, quando algumas meninas disseram que ele estava no banheiro do terceiro andar. O plano do grupo era levar o menino para jogar RPG na casa de Filipe ao final do dia. Eles não eram fãs de esportes, gostavam de jogos de tabuleiros e vídeo games. Tomara que esse tal de Kevin goste de D&D, Agostinho pensou.
Eram 15:45 de uma sexta-feira, quando tiros foram ouvidos no terceiro andar. Crianças corriam desesperada pelas escadas em direção a rua. Professores saiam da sala de reuniões para saber o que estava acontecendo. Dona Alvara correu ate o banheiro do terceiro andar. O barulho viera de lá. Ao abrir a porta cuidadosamente, encontrou 5 garotos caídos ao chão. Meninos pequenos, não deviam ter mais que 12 anos. Podia ouvir a porta fechar bem atrás dela. Um estrondo toma conta do banheiro.
Gazeta Diária.
“JOVEM DE 12 ANOS ATIRA CONTRA 5 COLEGAS E 1 PROFESSORA.”
“Ao ser questionado, pai do aluno diz não saber como ele obteve a arma.”
“Jovem após realizar disparos, atirou contra sua própria cabeça.”
“Pais revoltados cobram soluções das autoridades.”
” Mãe do assassino, diz que filho sofria bullying em antigas escolas”