O Maltrapilho e o Filósofo
Conta-se* que na década de 1990 a Faculdade Católica de S. Luís organizou um excepcional simpósio filosófico no qual palestraria, ninguém mais, ninguém menos que, o renomado filósofo e crítico literário belenense Benedito Nunes.
Bené Nunes, pensador afeito a autenticidade do pensar sobre o ser, a existência e a linguagem, na esteira de Heidegger, seguiu um estilo de vida simples e desprendido, próprio da nobre humildade dos verdadeiros intelectuais que a muito se livraram dos fardos do ego e da autorreferencialidade ao relacionar-se com a sabedoria.
Naquela década em que não estavam democratizadas a internet e a veiculação instantânea da imagem, sobretudo no Norte e Nordeste do país, muitos estudantes e amantes da filosofia conheciam o nome e algumas obras do pensador paraense, mas, poucos lhe conheciam o rosto.
Chegado o grande dia, para a Faculdade eclesiastica ludovicense acorriam não só os seminaristas, porém os interessados na filosofia e no filósofo em questão, como os estudantes e docentes da UFMA. Ao entrarem no prédio de ensino, muitos se incomodaram e até debochavam de um senhor maltrapilho que estava assentado por alí. Era como um insulto para aqueles alunos, aspirantes à glória eclesiástica e acadêmica, a presença daquele mendigo à porta da Faculdade.
Hora depois, inicia-se solenemente o evento e quão grande não deve ter sido a surpresa e o enrubescimento de tantos ao testemunharem que o maltrapilho na entrada da Faculdade não era outro senão o grande Benedito Nunes que, no silêncio da autenticidade de seu ser, involuntariamente, introduziu a sua conferência levando os ouvintes ao verdadeiro pensar, questionando sobre a genuinidade de suas próprias condutas. Alí, Bené Nunes mostrou como se conjuga, na existência, filosofia e educação.
O maltrapilho, no caso, é O filósofo.
*Baseado em relato da vida real que escutei do Fr. Silvio Almeida OFMcap e adaptei neste texto. (Jonas)