Magnétika- cap. XII

Magnétika- Cap.XII

Realmente, eu e Gabrielle éramos incompatíveis; tínhamos atração mútua, mas isso não era tudo.Lembrando agora, desses momentos fugazes da adolescência, vêm-me doces lembranças, porém seguimos caminhos diferentes. Ela era afeita a aparência e detalhes, na flor de sua beleza, realmente estonteante. Mas eu nunca fui desses extrovertidos, embora a amizade com seu Jô tenha me soltado muito.

Estava acabrunhado, mas a amizade com seu Jô se mantinha intacta. Um dia, ao aparecer lá na sua livraria, como sempre fazia, embora minha mãe odiasse , ele viu minha tristeza e passou seu braço em meus ombros:

-O que você tem, moleque?

Levantei os olhos e disse, após uma pausa:

- Você sabe...

Ele percebeu tudo e, depois falou isso:

-Já sei, sua "namoradinha", a Gabriele; essa menina, desde que chegou, foi espevitada...

Percebeu que tinha falado algo que não devia...não sabia o que era, mas desconfiava.

Depois de uma pausa, continuou: -Isso me lembra Drummond:" o primeiro amor já passou...o segundo". Você está ainda na fossa do primeiro. "E agora, José?". Continua, sim, a vida nos dá umas cacetadas, quando menos esperamos, mas, a gente resiste... "Que seja infinito enquanto dure..."-já dizia Vinícius. O ser humano é complicado mesmo... principalmente nas coisas de amor; ah, se fôssemos simples como os animais. Aí vai lá um tal de Camões e fala :" Amor é fogo que arde sem se ver..."- é mesmo essa contradição, que é "ter com quem nos mata lealdade". Ou então lá vem um tal de Garret, que diz, após passar por todos esses infortúnios causados pelo sofrimento do amor, no fim ,ainda fala que antes disso ele não vivia. Fosse uma coisa simples, não seria ele que daria sentido à vida. Quantos reinos foram conquistados em função dele; por causa do rapto de Helena de Tróia se criou uma guerra. Será que alguém faria isso por causa da sogra? Há,há,há,há!

E riu com seus dentes meio amarelados; eu acabei rindo também. Seu Jô sempre com suas tiradas literárias; sempre nos fazia rir e ficar mais leves. Acabou por me emprestar um livro de sonetos de Camões, o lírico, que sempre preferi aos Lusíadas, mas não dizia isso a ele.

Com esses pensamentos cheguei a casa; minha mãe já me alfinetava:

-De novo com aquela gente? Sabia que tem exame no fim do ano e os vestibulares? Tem que se empenhar mais; não somos milionários; sua escola é cara...

-Deixa o moleque...-meu pai já havia chegado- deixe ele se divertir enquanto pode; atá arranjou namorada; você é que fica mimando ele demais; eu nessa idade estava jogando bola na rua...

Eram duas dimensões diferentes; em minha família a dimensão da realidade, tal qual Sancho Pança; seu Jô era como que um Quixote moderno, atacando com sua lança moinhos de vento da mediocridade. Bravo, seu Josivaldo!