Antonio de Albuquerque
Foto Google
O Rezador
Ali existia uma velha casa de tijolo aparente, tinha um espaçoso alpendre onde guardavam os arreios dos animais, no seu interior havia uma sala grande, uma mesa para refeições, três alcovas e uma ampla cozinha com um fogão a lenha que abrigava um tradicional bule de café sobre suas trempes quentes, assim o café era farto para todos que dele se servissem. Com imensa saudade, ainda guardo na lembrança a santa Imagem da minha amada mãe e saudade de seus beijos e afagos coloridos de ternura. A velha casa onde tudo parecia ter vida, tinha a frente voltada para um terreiro de terra vermelha, secundada por longo espaço de brancas malvas formando um imenso campo florido, adornado com borboletas multicores e uma florida Aroeira, onde à sua sombra, eu sonhei os mais lindos sonhos de menino.
O vale era esplendoroso, cercado de montanhas rochosas, onde as ovelhas subiam em busca d’água, e onças afoitas que ali viviam, se mostravam. No chão, entre folhas e flores caídas, ambuás, grilos e calangos, assustados se mostravam, bulindo nos arbustos. No alto, o Sol brilhava tal uma manzorra de fogo, onde alvas nuvens formavam figuras engraçadas e andorinhas voavam em bando, desenhando belíssimas formações. O nascer e o pôr do Sol era um magnífico espetáculo de grandeza universal e de tanta beleza, fazia lembrar o Criador abençoando a todos sem escolher a ninguém. Entre as imburanas e aroeiras, abelhas produziam puríssimo mel, sendo estas bichinhas, de minha admiração e estima, embora constantemente me expulsassem de perto de suas colmeias. Assim eu vivia em constante atrito com elas e meu refúgio sempre era na Tapera de seu Tibúrcio, homem de cor escura morando na subida de uma montanha. Ele sim, me acolhia, benzia e curava meus constantes arranhões, ferimentos fruto das minhas perenes peraltices. O rezador Tibúrcio, esse sim, tinha o poder de curar pessoas e animais, tendo o reconhecimento de homens e mulheres que o visitavam em busca de saúde e receber orientação através de suas benditas e sábias palavras, embora alguns não acreditassem que um homem que bebia cachaça e contava histórias sobrenaturais, pudesse consciente rezar, curando pessoas e animais ou aconselhando que precisava de orientação, mas meu pai e eu acreditávamos nas suas curas e contos paranormais.
Então, ao Curador Tibúrcio fiquei a dever um bom conselho que recebi quando criança, aos sete anos de idade, quando não sabia ler nem escrever. Certo dia perguntei ao Tibúrcio o que eu faria para aprender a ler e ele respondeu que eu poderia aprender sem professor e me entregou uma carta de ABC e uma Tabuada, adiantando que havia recebido de um padre ao visitar a cidade. — Para mim esse material não tem serventia, mas para você será útil por toda a sua vida, disse ele. Com essa ferramenta eu me alfabetizei sozinho e alguns meses depois eu sabia ler, escrever e fazer contas, usando uma metodologia própria.
Assim, também, alfabetizei o rezador Tibúrcio que ainda não conhecia letras nem números. Me lembro, virem de distantes lugares, pessoas pedir para serem alfabetizadas, ou para que eu lesse cartas recebidas ou endereçar outras para parentes à distância. Esses acontecimentos marcaram profundamente minha vida. Tempos depois, Tibúrcio viajou para o céu, eu inteirei nove anos, meus pais vieram para a capital, eu os acompanhei e minha vida tomou nova direção.
Ali existia uma velha casa de tijolo aparente, tinha um espaçoso alpendre onde guardavam os arreios dos animais, no seu interior havia uma sala grande, uma mesa para refeições, três alcovas e uma ampla cozinha com um fogão a lenha que abrigava um tradicional bule de café sobre suas trempes quentes, assim o café era farto para todos que dele se servissem. Com imensa saudade, ainda guardo na lembrança a santa Imagem da minha amada mãe e saudade de seus beijos e afagos coloridos de ternura. A velha casa onde tudo parecia ter vida, tinha a frente voltada para um terreiro de terra vermelha, secundada por longo espaço de brancas malvas formando um imenso campo florido, adornado com borboletas multicores e uma florida Aroeira, onde à sua sombra, eu sonhei os mais lindos sonhos de menino.
O vale era esplendoroso, cercado de montanhas rochosas, onde as ovelhas subiam em busca d’água, e onças afoitas que ali viviam, se mostravam. No chão, entre folhas e flores caídas, ambuás, grilos e calangos, assustados se mostravam, bulindo nos arbustos. No alto, o Sol brilhava tal uma manzorra de fogo, onde alvas nuvens formavam figuras engraçadas e andorinhas voavam em bando, desenhando belíssimas formações. O nascer e o pôr do Sol era um magnífico espetáculo de grandeza universal e de tanta beleza, fazia lembrar o Criador abençoando a todos sem escolher a ninguém. Entre as imburanas e aroeiras, abelhas produziam puríssimo mel, sendo estas bichinhas, de minha admiração e estima, embora constantemente me expulsassem de perto de suas colmeias. Assim eu vivia em constante atrito com elas e meu refúgio sempre era na Tapera de seu Tibúrcio, homem de cor escura morando na subida de uma montanha. Ele sim, me acolhia, benzia e curava meus constantes arranhões, ferimentos fruto das minhas perenes peraltices. O rezador Tibúrcio, esse sim, tinha o poder de curar pessoas e animais, tendo o reconhecimento de homens e mulheres que o visitavam em busca de saúde e receber orientação através de suas benditas e sábias palavras, embora alguns não acreditassem que um homem que bebia cachaça e contava histórias sobrenaturais, pudesse consciente rezar, curando pessoas e animais ou aconselhando que precisava de orientação, mas meu pai e eu acreditávamos nas suas curas e contos paranormais.
Então, ao Curador Tibúrcio fiquei a dever um bom conselho que recebi quando criança, aos sete anos de idade, quando não sabia ler nem escrever. Certo dia perguntei ao Tibúrcio o que eu faria para aprender a ler e ele respondeu que eu poderia aprender sem professor e me entregou uma carta de ABC e uma Tabuada, adiantando que havia recebido de um padre ao visitar a cidade. — Para mim esse material não tem serventia, mas para você será útil por toda a sua vida, disse ele. Com essa ferramenta eu me alfabetizei sozinho e alguns meses depois eu sabia ler, escrever e fazer contas, usando uma metodologia própria.
Assim, também, alfabetizei o rezador Tibúrcio que ainda não conhecia letras nem números. Me lembro, virem de distantes lugares, pessoas pedir para serem alfabetizadas, ou para que eu lesse cartas recebidas ou endereçar outras para parentes à distância. Esses acontecimentos marcaram profundamente minha vida. Tempos depois, Tibúrcio viajou para o céu, eu inteirei nove anos, meus pais vieram para a capital, eu os acompanhei e minha vida tomou nova direção.