Pai Contra Mães.

Luiz abriu a porta do banheiro. O chão sujo, as paredes manchadas. Mosquitos e aranhas se debatendo pela vida.

Um choque de asco percorreu suas entranhas e chegou à culminância na superfície dos poros arrepiados. Ele pinçou com os dedos as narinas. Fechou novamente a porta. “Cruzes! Um sabãozinho aí!”

Colocou um balde na porta do banheiro e retirou as coisas miúdas do local. Um jato d'água com Qboa e muitos esfregões foram deixando o banheiro imaculado. Ao chegar aos cantos das paredes, teias com aranhas e casulos de ovos.

Luiz se sentiu assaltado por uma perspectiva. Pousou a vassoura e poupou as aranhas com suas proles. “Não. Vocês vão me desobrigar de toda matança.”

Ao terminar, recolheu as ferramentas e repôs os objetos no banheiro. Parou diante da porta.

A fragrância suave da limpeza invadiu o olfato e modificou os humores de Luiz, que abriu levemente as narinas e, com elas, um sorriso de gozo. “Ah... agora, sim: o banho!”

Ele ligou o chuveiro e entrou embaixo tendo a cautela de não deixar que a água espirrasse sobre a incubadora das aranhas.

O afago e a fluidez do sabonete sob a água morna fizeram com que se pacificassem as sensações de asco anteriores. Suspirando, Luiz começou a cantarolar um assobio suave e melodioso.

Eis que surge ele, aliás: ela, a grávida e vampira muriçoca.

O zunido bateu nos ouvidos e correu rápido até os limites da paciência de Luiz. Ele fechou os olhos incrédulo do que escutava. “Não é possível, Diabo!”

A muriçoca manobrava em loops e parábolas ao redor de um fio de teia que ligava as paredes opostas sobre o ralo do boxe.

A regularidade das trajetórias de voo do inseto se infiltraram nas ideias do homem. Ele levantou a mão e fez a posição de ataque. “Arrá!”

No momento da pegada, a aranha surgiu, trotando sobre o fio, na frente de Luiz. A investida dele desmontou a ponte construída por ela, que caiu na direção do ralo encharcado.

O susto, o pânico. Luiz, com as mãos à boca, os olhos arregalados. Olhou para cima, para a queda d'água, e para o ralo, sem achar nada. “Caramba!! Cadê ela??”

O mosquito era uma presa nas teias. Seus olhos eram de espanto e horror. Acima dele, na parede, os ovos de que a aranha cuidava e protegia.

O vazio inundou o interior de Luiz, deixando-o oco. Olhou novamente para o ralo, em busca dela, e notou que ela ainda vivia, pois vinha subindo pela parede do boxe. Ele movimentou a mão sobre a aranha. “Será que a teia ficou presa...?”

A água que escorria pelo antebraço até os dedos terminaram de varrer a aranha desta vez. Ela sumiu no abismo do ralo.

Sobressaltado e enfurecido, Luiz tateou no espaço à sua frente. Olhou para a muriçoca. “Isso é tudo culpa sua!”

Ele segurou com as pontas dos dedos o inseto enclausurado nas teias. No momento de colocá-lo sobre os ovos armados acima, a água restante de suas mãos desfizeram o casulo que matinha o pernilongo e este escapou ileso.

Um frêmito de náusea e desolação abateu os membros e o ânimo de Luiz, que baixou os braços e a cabeça, contemplando o abismo do ralo. “Ooooh, eus!”