139 - Cento e Trinta e Nove

A casa acordou, de repente, todos os ecos, todas as memórias, todos os fantasmas. Para ter força recusou dar-lhes atenção. Vendeu e deu o recheio. O que na verdade é essencial anda sempre connosco mas, ainda assim, despia a alma de referências e percebia que ficava leve, vazia, solta. Amputado o tempo que passou havia um que lhe exigia, prazos, documentos, vacinas, cuidados. Não teve ocasião para chorar. Recolheu as lágrimas, as saudades, o olhar daqueles que lhe desatavam os laços e a indiferença de quem nunca está na amizade por inteiro. A viagem foi longa, a chegada traumática, a nova casa precisava de obras. Havia frio, pouco sol e nenhuma das bênçãos que imaginava aconteceu. Muito tempo depois, algumas das suas mais antigas raízes voltaram ao trabalho e essas ensinavam as novas a entender, a falar com acento novo, a dançar músicas que só se tocam aqui.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 09/01/2020
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