Conto das terças-feiras – Celular roubado?
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 31 de dezembro de 2019.
Antes de tudo, aos que sempre perguntam se meus contos são reais ou fictícios, pergunta a qual não gosto de responder, por questões óbvias, alerto que ele é totalmente real. O que vai aqui contado aconteceu de verdade.
Ricardo, como acontece em todos os dias úteis da semana, chegou do trabalho, retirou dos bolsos tudo que o incomodava e colocou na mesa da sala de visitas. Em seguida foi almoçar, deitou-se em seu quarto e dormiu, isto é, tirou uma sesta, repouso após o almoço, costume agora pouco usual, exigência da pressa, da correria contra o tempo.
Antes que o moço acordasse, seu pai tomou banho, vestiu-se para sair, tendo antes colocado sua carteira no bolso de trás da calça e o seu celular, que se encontrava na mesa da sala de jantar. Em seguida pegou o carro na garagem e foi resolver problemas como: pagamentos pessoais e da esposa, fazer uma fezinha na Mega-Sena, passar no supermercado, adquirir alguns gêneros alimentícios seguindo uma lista preparada pela esposa e voltar para a sua casa. Toda essa trabalheira durou exatamente duas horas e trinta minutos.
Enquanto isso, Ricardo acordou e se preparava para voltar ao trabalho. Vestiu sua camisa, que ficara esfriando – ele sempre diz isso – no respaldo da cadeira, pegou seu relógio, colocou em seu pulso e papéis de anotações em seu bolso. Ao procurar pelo seu celular, percebeu que ele não estava entre os objetos que acabara de apanhar sobre a mesa. Mais que depressa desceu até a garagem para ver se não tinha deixado em seu carro, voltou esbaforido.
— Mãe, acho que perdi o meu celular – um iPhone de última geração – balbuciou para a mãe, que não entende nada do que ele dissera, teve que repetir, depois que a senhora pediu calma.
— Empreste-me o seu celular, vou tentar localizar onde deixei, ou o ladrão que o roubou.
— Como você vai fazer isso, filho? Perguntou à senhora, também aflita.
— Tenho um aplicativo que rastreia a localização do meu celular - respondeu já pegando o celular das mãos da mãe.
Depois dos ajustes necessários para a operação de rastreamento, o celular foi localizado.
— Olha mãe, a pessoa que roubou está trafegando pela Avenida Washington Soares, aqui perto, acho que ela deve morar para o lado de lá, ou em uma cidade próxima de Fortaleza. Ele parou em frente à agência do Banco do Brasil, vou esperar para saber qual o próximo passo dele.
Depois de esperar uns vinte minutos, o veículo do achador do celular iniciou novo movimento e Ricardo, bastante excitado, falava para a mãe:
— Ele está indo em direção ao supermercado que fica próximo ao banco, parou.
Mais uma espera de quarenta minutos e o veículo iniciou outro movimento, tomou a Washington Soares, fazendo o retorno sentido sertão/praia. Cada movimento do veículo, Ricardo ficava mais encolerizado. Sua mãe perguntou se ele não poderia ir em direção ao veículo que trafegava com o iPhone dele.
— Mãe, o seu celular não tem internet, estou usando o WI-FI daqui de casa, se eu sair perco a localização do veículo. O carro parou novamente, acho que em uma Loteca.
Passados quinze minutos, o carro se pôs novamente em movimento, agora mais acelerado no deslocamento, entrou na Av. Sebastião de Abreu, Rua Lígia Monte, seguiu em frente e entrou na Rua Dr. Gilberto Studart.
— Mãe, ele está na nossa rua, gritou alegre o rapaz.
— Ele parou em frente ao nosso prédio, acho que quem achou o meu celular veio devolver.
Na verdade, o carro com o celular do Ricardo entrou na garagem e não mais foi possível rastreá-lo.
Os dois, mãe e filho, ainda bastante excitado ficaram na expectativa de quem entraria por aquela porta. Seria o ladrão do celular? Como o porteiro o deixou entrar?
A porta se abre e quem aparece? O pai de Ricardo, cansado, mas aliviado por ter chegado em casa, o trânsito estava muito engarrafado. Ao ouvir a história dos dois, o pai tirou o celular que carregava no bolso, percebendo que não era o dele. As chamadas não foram atendidas porque o som estava muito baixo.
Feliz 2020 para todos os membros do grupo "Recanto das Letras"