O PRIMEIRO PASSO
A cidade a seus pés. Pessoas aos seus pés. Lá embaixo seres se movem de um lugar para o outro. Onde eles vão?. O carteiro apressado com o seu uniforme amarelo desce as escadas da praça. Ávido para entregar a sua encomenda. Talvez a felicidade de alguém naquele embrulho, ou não. O vendedor de pão empurra o seu carrinho para "empanturrar" os moradores do sobrado Vintém. O bicheiro na porta de um cinema desativado desafia a força pública. O incauto conta os seus tostões retirados dos bolsos de ferroviários pobres. A ferrovia se enche de afoitos por uma viagem para o trabalho ou o descanso merecido. Os bares, os botecos e suas luzes acesas oferecem bebidas geladas, mas também as refeições mais quentes. Wilson observa tudo isso diante de um parapeito do prédio mais alto da cidade. Ele nunca assistiu ao filme " janela indiscreta", mas assistia a cenas daquele cotidiano. O ano não foi fácil. Uma separação, uma troca de emprego, e a perda de um filho resumiu aqueles 365 dias. A face dele se contrai a cada barulho de buzina. O silêncio é o amigo que ti conforta. Wilson sabia disso. Ele, o superintendente, dirigia uma das empresas que fabricavam aparelhos auditivos. Inúmeras vezes os seus produtos devolveram a vida "normal" as pessoas. Mas a vida dele não apresentava grandes momentos. Ele olhava para baixo e procurava uma saída para o seu estado de espírito. Porém não tinha respostas. Então ele tomou uma atitude. Deu o primeiro passo, olhou para o céu, rezou, e voltou para a festa de confraternização da empresa. Nada poderia atrasar a festa, inclusive a sua ausência. Tudo voltou ao normal: as buzinas, as pessoas, o cotidiano, e o dia agitado.