DRAG E FIT
Quando Drag correu para a varanda e chegou perto daquele tico-tico que caíra do ninho todos nós tínhamos a certeza de que era o fim para o filhote mal emplumado.
A ave ficou batendo as asas, na tentativa desesperada de alçar voo, mas sem as penas principais as tentativas eram totalmente inúteis.
Drag chegou mais perto e colocou a pata sobre aquela coisinha feia e mal-acabada, mas não abocanhou.
Ficaram assim, imóveis por bastante tempo.
Finalmente livre, a avezinha se refugiou nas traves de ferro do suporte da avenca e Drag sentado nas patas traseiras ficou observando.
Apesar de manter-se sempre bem alimentado, Dragão de Seda, verdadeiro nome de Drag, o gatão negro que mora comigo, legítimo vira-lata, digo SRD, de penetrantes olhos verdes, sem qualquer aviso prévio, vez por outra sai de casa para praticar a milenar arte da caça e sempre volta com um calango, uma lagartixa, uma pombinha ou qualquer outro mimo para nos presentear, mas que por pura ingratidão de nossa parte, desenvolvemos o reprovável hábito de pôr no lixo.
O tico-tico bebê ainda não tinha as listras coloridas definidas e a má distribuição das penas, dava a impressão de pequenos pedaços de fitas pregadas pelo corpo. Por causa desse detalhe, passamos a chamá-lo de Fitilho, abreviado rapidamente para Fit.
Os pais de Fit, continuaram a alimentá-lo.
Numa tarde chuvosa e fria, Drag trouxe-o para dentro da casinha e, aninhados, dormiram o sono dos justos.
O tempo passou, Fit está completamente emplumado, aprendeu a voar, mas diariamente vem comer as migalhas no prato de Drag.
Depois da refeição os dois brincam de polícia e ladrão por entre as plantas da varanda e, quando as condições do tempo exigem um abrigo melhor, os dois dividem a casinha como bons e velhos amigos...