ZEZINHO ENGRAXATE

Era uma vez um garoto chamado José Davi, conhecido pela comunidade como Zezinho Engraxate, vivia engraxando calçados e peças de couro em geral para ajudar sua família nas despesas da casa, pois sua mãe estava gestante, sendo uma gestação de alto risco, e por a mesma ter uma idade avançada, ela tinha que permanecer em total repouso. Seu pai havia viajado há alguns meses atrás à procura de trabalho, e não retornou. Era um menino muito generoso, ajudava sempre seus amiguinhos, doando balas, guloseimas e alguns brinquedos para alegrá-los. Morava em uma comunidade humilde, em uma pequena cidade no meio do nada, porém o garoto tinha muita disposição para executar com perfeição seu ofício, sempre com muita Fé em Deus.

Toda a manhã Zezinho acordava ao alvorecer, quando o sol ainda brincava com a aurora, por trás dos montes, ele começava a se preparar para seu ofício diário de engraxate... O garoto saia carregando seu pesado caixote de engraxate, pela estrada esburacada de barro, até o local onde costumava ficar, em frente à Paróquia de São Sebastião, no centro da pequena cidade. Ficava o dia todo por lá, engraxando e deixando os sapatos dos fregueses assíduos, com um brilho peculiar que somente ele conseguia realizar. À noite o garoto voltava para casa com seus ganhos do dia, passava na padaria do senhor Manoel e comprava pão e leite; era a sua rotina diária... Certa noite, sua mãe esperou Zezinho chegar do seu ofício e falou para ele:

- Meu filho, as despesas estão aumentando, eu não posso ficar parada enquanto você trabalha sozinho. Não é justo o que vem acontecendo! Eu vou voltar a trabalhar, e que Deus nos ajude.

O garoto olhou para sua mãe, seu olhar era de pura tristeza, e respondeu-lhe:

- Mamãe, a senhora sabe muito bem que não pode fazer esforço. Seu bem-estar e o fruto que a senhora carrega em seu ventre são as duas coisas mais importantes nesse momento. Pode deixar que eu farei horas extras! E ponto final, mamãe!

Zezinho se dirigiu até a cozinha, tomou um copo de leite com açúcar mascavo e foi dormir no chão da sala, único local disponível da casa... A lua se escondeu e o sol resplandeceu com seus raios brilhantes no azul do céu. Naquele amanhecer o garoto, mais uma vez, saiu confiante para execução do seu ofício. Ele sabia que precisava dobrar seus lucros, e seu foco era a saúde da sua mãe. Seguiu pela trilha de sempre até o seu destino...

Duas horas depois o menino estava na calçada da igreja quando um senhor se aproximou e pediu para ele ir engraxar em outro lugar, e disse-lhe:

- Menino, você pode sair, por favor! Porque irei lavar toda entrada da Paróquia. Você ainda é muito jovem para trabalhar!

Zezinho olhou com tristeza para o homem que falava de maneira rude com ele. Então, não pensou duas vezes, e rapidamente lhe respondeu:

- Senhor, eu posso ajudá-lo? Eu sou forte e minha mãe está acamada com uma gravidez de alto risco, e para completar, o dia hoje está parado totalmente. Senhor, por favor!

Aquele senhor levou o garoto até a presença do padre responsável pela paróquia daquela comunidade. O homem explicou ao sacerdote que o menino engraxate precisava ajudar sua família. O pároco olhou para Zezinho e disse-lhe:

- Meu filho, eu estou precisando de alguém que ajude na missa aos domingos, sabemos que não será um trabalho remunerado. Mas, temos pessoas importantes que frequentam nossa paróquia e essas pessoas podem precisar de cuidados especiais nos sapatos. E isso não irá atrapalhar o seu ofício de engraxate no decorrer da semana.

- Senhor, eu aceito! Preciso de toda ajuda possível. Respondeu-lhe

Zezinho voltou para casa, e contou as novidades para sua mãe. Logo depois foi descansar mais aliviado...

A semana passou rápida e chegou finalmente o tão esperado domingo. O clima estava perfeito, a temperatura bastante agradável, e Zezinho estava confiante em dias melhores. Chegou bem cedinho à igreja e foi ajudar na arrumação das cadeiras. De repente, olhou para o chão e viu uma carteira recheada de dinheiro, percebeu pelo volume da mesma, pegou o objeto e foi levá-lo até o pároco. Entregou a carteira ao responsável espiritual, que a analisou, procurando o nome do dono. Logo depois, agradeceu ao garoto e mandou que ele fosse organizar o altar para o início da celebração... Após a missa o garoto já estava se preparando para deixar o local quando alguém se aproximou dele e falou:

- Jovem, eu sou o dono da carteira que você encontrou, e estou muito emocionado e agradecido pelas suas boas ações. O pároco falou que você estava precisando de ajuda financeira. Eu gostaria de compensá-lo pela sua atitude. Eu posso saber qual a sua idade? Pois, eu tenho uma proposta para você.

Zezinho olhou admirado para o homem, e respondeu-lhe:

- Bom dia, senhor! Eu tenho quatorze anos completos.

- Bom saber disso meu jovem! Eu tenho uma proposta de emprego para você de Jovem Aprendiz, em meu escritório. Assim, ao ser contratado, você terá um emprego de carteira assinada, com todos os direitos trabalhistas e jornada de trabalho reduzida, para ter a chance de estudar em horário contrário, do turno do trabalho. Eu te aguardo no endereço que consta neste cartão, munido de todos os seus documentos, na próxima semana sem falta. Obrigado meu jovem rapaz!

Zezinho não conseguia acreditar no que tinha sido proposto. Ele se dirigiu até o altar, segurando o cartão, e agradeceu a Deus, pela oportunidade do emprego. Saiu da igreja feliz da vida, e foi continuar o seu ofício de engraxate até o final daquele dia.

O tempo passou rápido, José conseguiu o emprego proposto, e deu continuidade ao seus estudos. Sua mãe teve um lindo bebê, e ajuda nas despesas fazendo doces e bolos por encomenda. E a família vai vivendo feliz!

Elisabete Leite

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 26/12/2019
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