O homem que não mentia
- Contarei para você um caso que me aconteceu hoje. E você não me acreditará. Eu fui abduzido por um alienígena. É verdade. E conto a história desde o começo. Acordei às sete, sobressaltado, e pulei da cama, o coração a escoicear-me o peito. E quase bati com a cabeça no teto. De repente, um clarão iluminou o quarto, enceguecendo-me, obrigando-me a proteger com as mãos os olhos e a voltar-me para trás. E as trevas reassumiram o governo do quarto. E fez-se a escuridão. Assim que me aprumei, apareceu, a um palmo de meu nariz, uma criatura bizarra: esquálida, de quatro olhos, cinco fossas nasais, três orelhas, duas bocas, sete sobrancelhas, seis queixos, três braços, uma perna; e em cada braço duas mãos, em cada mão dois dedos, em cada dedo duas unhas; e na perna, três dedos sem unhas. Falou-me, e eu nada entendi das palavras que me chegaram aos ouvidos. De repente, envolveu-nos uma bolha azul fosforescente, que nos teletransportou para um planeta situado em uma galáxia localizada em um universo paralelo de outra dimensão, planeta habitado por criaturas horripilantes. Não sei durante quanto tempo a criatura, meu guia em tal viagem interdimensional, ocupou-se em apresentar o seu planeta. Enfim, uma bolha vermelha fosforescente envolveu-me, e, quando dei por mim, vi-me no meu quarto, são e salvo, belo e formoso.
- Que história sem pé, nem cabeça. Você teve um pesadelo.
- Que pesadelo! Um alienígena me abduziu. Foi tal aventura a mais extraordinária da minha vida.
- Você não é pescador; seu pai não é pescador; seus avós não são pescadores... Não há sangue de pescador correndo em suas veias. Por que você mente, então?
- Eu não menti.
- Não, cara-de-pau?! Não?!
- Não. Não menti. Eu disse que eu contaria para você um caso que me aconteceu e que você não me acreditaria. Contei o caso. E você não me acreditou. Menti?