Por que não partiram o bolo?




Esther amava bolo. Nas festas comia pouco para se esbaldar no bolo. Mas naquela festa, apesar do bolo ser enorme, não o partiram. Foi para casa decepcionada. Festa que não partem o bolo não é festa.

Era madrugada, mas estava sem sono. Resolveu lê um pouco. Antes, porém, achou melhor conferir a fatura do cartão de crédito do marido que tinha chegado.

_ Bora ver quanto é o rombo desse mês.

Abriu a fatura e viu que era R$ 666,00 o valor a pagar. Puxa! O número da besta. Deu um sorriso dessa lembrança. Besteira! Tem gente que acredita em cada besteira!

Ao conferir a fatura encontrou uma compra diferente numa loja chamadas “Donnas”. A data era dia 11 de junho de 2019. Véspera do dia dos namorados. Estranho! Estavam sem dinheiro e combinaram de não trocar presentes. Muito estranho aquela compra. Mas poderia ser somente coincidência. Com certeza era isso. Melhor ir dormir porque estava cansada e com fome.

_ Droga de festa que não partem o bolo!  _ Bravejou mais uma vez.

A loja só abria às 09 horas, mas Esther já tinha ligado para lá várias vezes. Precisava saber o que seu marido tinha comprado. Não era desconfiança. Podia ser erro e não queria pagar por algo a mais. O valor nem era tão alto R$ 49,90.

Teve uma ideia, já que a loja estava fechada, ligou para o cartão de crédito.

_ Alô?
_ Oi, bom dia! Olha... estou conferindo aqui o cartão e vi uma compra não identificada. Você teria como me informar o que foi comprado?
_ Claro! A senhora pode me passar o numero do cartão e dia da compra? Caso a senhora discorde da compra poderá contestá-la.
- Sim. Claro.
_ Senhora, desculpe a demora, mas o cartão não está em seu nome. Só passamos informação ao titular.
_ Ah, tudo bem!

Resolveu ligar para a loja.

_ Oi! Bom dia! Essa loja vende roupas masculinas?
_ Não senhora. Somos especializados em roupas íntimas femininas.
_ Mas, vocês não vendem nem um cinto masculino?
_ Não senhora. Sinto muito.
_ Entendi.
 ******
 

_ Bom dia! Aqui é João Marcelo. Eu recebi minha fatura e tem uma compra que não reconheço.
_ Senhor. Posso primeiro confirmar alguns dados?
_ Claro!
_ Obrigada pelas confirmações. _ Senhor, a compra foi realizada dia 11 de junho às 11h58min, foi uma camisola tamanho 44 na loja “ Donnas”. O senhor não reconhece essa compra? Posso fazer uma abertura de averiguação e o senhor paga somente as compras reconhecidas até ser resolvido.

 João desligou.

 
****


 
_ Não me peça mais para fazer isso. Eu quase infarto! Achei que a atendente iria descobrir que eu não era o João Marcelo.
_ Agora você concorda comigo? Ele tá tendo um caso.
_ Isso não prova nada... Tudo bem que foi uma camisola, mas ele pode ter se esquecido de te dá. _ Argumentou o amigo de Esther.
_ É 44 o tamanho. Eu uso 38. Ele se esqueceu de me dar  por mais de mês?
_ Hummm. Homem é desligado! Além disso, muito barata pra dar de presente pra amante.
_ Eu nem um presente desse preço ganhei. _ Choramingou Esther.
_ Eu conheço Marcelo desce sempre e ele jamais faria isso como você. É louco por você!
_ Sei... Você não me contaria se soubesse. São amigos.
_  Engana-se! Sou seu amigo também e jamais pactuaria com algo assim.
_ Acho que é puro ACHISMO! Você não tem certeza. É melhor conversar com ele. _ Conclui o amigo de Esther.
_ Não... Eu vou arrumar minhas coisas. Não vivo mais um minuto com esse mentiroso. Enganador. Ele vai negar tudo e eu ficarei pior ainda.
_ Boa sorte, então. Qualquer coisa estou aqui.


 
****

 
Esther arrumou tudo que pretendia levar. Deixou a mala pronta e iria sair antes que ele chegasse para o jantar, sem espaço para discussão. Não se submeteria a isso.

O celular tocou. Era sua mãe que sempre ligava na hora errada. Não falaria para ela, pois  não queria deixá-la preocupada. Mal disse alô começou a chorar.
_ Mãe. Marcelo está tendo um caso. Comprou até presente pra ela.
_ Minha filha, acalme-se. Você tem certeza? Tudo na vida tem solução. Pode ser uma besteira.
_ Tenho sim. Tudo comprovado. Não é besteira. Ele comprou até presente do dia dos namorados.
_ Converse com seu marido. Mas qualquer decisão saiba que vamos te apoiar. Gostamos muito do Marcelo, é como um filho pra nós, mas você sempre terá nosso apoio.
_ Mãe, estou a ponto de enlouquecer. Dói tudo! Estou me sentindo humilhada, me sentindo menos que a mosca do cocô do cavalo do bandido. Só quero chorar e sumir!

O pai de Esther que ouvia a conversa da esposa com a filha estava consternado. Assim que ela desligou o telefone ficou cabisbaixo. Sabia que a filha era muito decidida. Esperava sinceramente que tudo se resolvesse.

_ Acha que devemos ir lá? _ Perguntou a mãe de Esther.
_ Acho que não. Sei que ela está sofrendo muito, mas não podemos nos meter ainda.
_ Pensei em passar lá quando fosse à costureira que fica na mesma rua. Aproveito a desculpa.
_ O que você vai fazer na costureira?
_ Mandar ajeitar aquela camisola que você me deu no dia dos namorados. Ainda não usei porque precisa dar uma apertadinha na alça.