Conto das terças-feiras – Os cupidos de um restaurante de luxo
Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 26 de novembro de 2019
O casal entrou em um restaurante, observou o ambiente à procura de uma mesa desocupada. O local fervilhava de turistas. O garçom, solícito, foi em socorro ao casal para apresentar-lhe uma estratégica mesa, com visão para o calçadão da praia, onde desfilavam belas e esculturais garotas de biquíni.
— Ok! Queremos esta, falou o homem, que não tirava os olhos da paisagem externa.
— Não! Exclamou a mulher, uma senhora com pouco mais de cinquenta anos, ainda bonita e muito elegante.
— Por que amor? Perguntou o homem que a acompanhava, demonstrando aborrecimento. Nos seus trinta anos de idade, o rapaz queria demonstrar ao garçom, que era ele quem mandava ali.
A senhora explicou, dirigindo-se ao garçom, sem atender ao questionamento de seu acompanhante, que queria uma mesa em local reservado. Que precisava de tranquilidade para tratar de assunto muito importante. O garçom apontou para a única mesa que ainda restava desocupada, localizada próximo aos toaletes e realmente isolada das demais mesas, onde apenas se via o entrar e sair dos usuários dessas duas dependências, em cujas portas estavam escritos ele e ela.
Mais contrariado ainda, o jovem senhor resmungava, dizendo que só ficaria ali se fosse na mesa que dava vista para a praia. A senhora, irredutível, dirigiu-se para a mesa apontada pelo garçom. O rapaz se dirigiu-se à mesa que ele havia escolhido. Enquanto isso, o garçom se colocava equidistante às duas mesas, não querendo participar daquela discussão ridícula para ele, acostumado a nunca discordar da esposa.
Sentados diametralmente, os dois não se olhavam e ficaram assim por longos dez minutos. O garçom permanecia ali, esperando que um dos dois resolvesse o impasse, ou fizesse cada um o seu pedido. De repente uma bela moça se aproximou do rapaz e perguntou se poderia fazer-lhe companhia. Ele, nervoso, mas não querendo dar o braço a torcer, aquiesceu. A moça sentou-se, perguntou se poderia pedir uma bebida. Com o consentimento do rapaz, ela chamou o garçom e pediu um uísque, imediatamente trazido. Sensualmente ela começou a sorver sua bebida e, vez por outra mexendo o gelo com o seu indicador, de unha pintada em vermelho intenso.
Enquanto isso, a senhora também era visitada por um elegante senhor de cabelos brancos e bem tratados. Apresentou-se perguntando se poderia fazer companhia a tão fascinante pessoa. Sorrindo, ela mostrou a cadeira à sua frente, e falou:
— Por favor, esteja à vontade!
A atitude da senhora foi em consequência de ter observado o seu companheiro conversando animadamente com uma bela moça. O ciúme a impeliu a proceder do mesmo modo, querendo com isso demonstrar que também tinha o direito de assim proceder. Se ele prefere ficar com essa garota mais nova que eu, que fique por lá, pensou a senhora.
Já o rapaz quando percebeu o que estava acontecendo com a sua companheira, ficou inseguro, pediu licença e tentou levantar-se para ir ao encontro dela. Rapidamente, a garota que estava ao lado dele, segurou-lhe o braço e falou:
— Sente-se, você não corre nenhum perigo, aquele senhor na companhia dela é funcionário do restaurante. Agora mesmo ele está tentando acalmá-la, deixá-la mais confortável para ouvi-lo. Uma conversa amigável para fazer vocês dois entrarem em acordo e não provocar uma situação mais vexatória. Eu também fui preparada para agir nessas ocasiões. Primeiro, conciliar os casais em conflito, depois, caso isso não aconteça, evitar um escândalo dentro do restaurante. Pelo que podemos observar, ela ainda não se apercebeu do que está acontecendo. Se você gosta dela, não quer que esse conflito descambe para uma situação insolúvel, não deseja magoá-la, dirija-se à mesa onde ela está e conversem, façam as pazes. O cavalheiro que a acompanha à mesa se afastará quando eu ligar para ele, é nossa senha.
O rapaz, que não queria perder sua companheira, ainda atônito, concordou. Esperou alguns segundos e se dirigiu à bela senhora, que sorria alegremente. Ele chegou, pediu desculpa e sentou-se já segurando a mão dela. O restante do dia, dá para perceber, foi agradabilíssimo.