O Expresso Vermelho
Há muitos anos na Estação final da Linha Vermelha, que ainda leva este nome devido a cor em que foi pintado o trem que passa por ali, haviam dois outdoors de lados opostos da via-férrea, contendo anúncios contraditórios, que sempre me deixaram confuso.
O outdoor do lado direito fazia a propaganda de um ideal de vida com as frases: “Seja você o autor de sua história! Seja você mesmo! Não se preocupe em agradar a todos! Seja Feliz!”.
No outro outdoor, do lado esquerdo da via, também uma mensagem de ideal de vida: “Não espere que o mundo se adapte a você! A mudança começa com você!”.
Sempre quando eu lia essas mensagens, no meu pensamento redundava a sensação de estar em cima de um muro sem saber para qual lado pular.
Hoje, depois de vários anos retornei a esta Estação final, e observei que muita coisa mudou.
Os outdoors já não estavam mais ali. Haviam novas ruínas das fábricas adjacentes, que outrora produziam felicidade sólida.
A via-férrea sempre foi uma linha reta de dezenas de quilômetros, e após a estação final, situada a noroeste da via, encontrava-se a única curva para a esquerda, a qual prosseguia até o local de repouso do trem. Nesta curva, inclusive no galpão onde repousava, haviam dezenas de fábricas em alta produtividade. Mas, agora depois de tantos anos, só restavam as ruínas das mesmas. O resto da ferrovia após a curva, está quase soterrado pelo asfaltamento precário sobreposto.
Já não há mais vida no que restou das construções. Nem mesmo passageiros para embarcar nesta Estação.
E agora, tanto tempo depois, ainda fico na dúvida para saber qual dos outdoors conquistou mais adeptos? Será que a população abandonou o lugar para “serem eles mesmos”, felizes em outro lugar? Ou será que “mudaram a si mesmos” para serem aceitos em outro lugar?
Mas de uma coisa eu tenho certeza: o vermelho do expresso já não é mais tão vívido como antigamente!