Estranho mundo
Estranho mundo em que vivemos. Muito estranho. Minha parente por exemplo. Na reunião à tarde, a amiga de família chegou.Filha de não sei quem, neta de não sei quem lá; na minha frente o senhor um tantico pernóstico, falava da São Paulo antiga, que ele detalhou através de fotos. Vóz pausada, desfilava um rosário de acidentes importantes que havia presenciado: - E isso foi quando morei em Londres e o príncipe tal, "very polite". E quando minha esposa,a senhora do lado magra e com ansiedade feroz por falar" the true, not but the true": - Esposa não, vamos deixar claro aqui para os amigos, companheira, sou sua companheira! Ele a olha com olhar de cera já derretendo, continua dissertando e a audiência o acompanha, alguns desalentados, outros à procura de eventual caderninho da mente onde quiçá houvesse um ancestral meio nobre, nem que fosse um título comprado em troca da venda de escravos. Não essa parenta. Nem por sombra. A boca apertada reclama baixinho; - Nossa prima ficou brava porque não fui com ela à casa dessa chata. mas eu te conto viu? Imagine que,quando
eu tinha só quatro anos e essa antipática quatorze, sabe o que aconteceu? Ela já mocinha, me beliscou, me beliscou, eu,eu, e com quatro anos!! Rapidamente e devo dizer empurrada pelo susto, fiz as contas; teriam se passado quase setenta anos após esse acontecimento tenebrosos,malévolo, cruel! Não, realmente somente consegui balbuciar um nossa que saiu meio esbaforido pela minha boca o que a fez me olhar com certo desdém. Todos falavam, ninguém ouvia. Falava-se em viagens, em estudo "abroad", em como os filhos estudam fora do Brasil; orgulho de ser estrangeira. O senhor continuava dissertando sobre suas amizades fidalgas, a parenta continuava com a boca apertada; na hora de comer a voracidade ficou aguardando na porta querendo entrar. E entrou. Mundo Estranho.