ESPELHO
Me encarei no espelho nessa manhã chuvosa de maneira atenta. Olhei naqueles olhos por alguns longos segundos tentando reconhecer aquela pessoa. Saber se poderia dizer a mim mesmo quem estava ali. Não consegui. Antes mesmo de mentalizar algo tentei esvaziar a mente. Evitar qualquer pensamento ou distração. Só fiquei ali olhando, não querendo entender, ou explicar, revelar ou esconder, admirar ou criticar nada que via.
Quando passava o olhar sobre mim, depois de um tempo, imaginava os anos passados. Tantas histórias vistas e vividas, erros e acertos.
A pergunta que insistia em vir como um soluço incontrolável era: tem orgulho de mim? Como seu meu reflexo fosse um espectador. Não soube responder com verdade, nem sei se valeria a pena.
O rosto pesava agora, depois de bons minutos. O reflexo quase me queria fora dali. Desejava voltar e tentar ver meu eu criança e para quem ele olhava, ou talvez eu adolescente, ou com vinte e poucos. Quem sabe eles tenham respostas para perguntas que não consegui formular.
Jogo uma água fria em meu rosto para acordar, mudo o semblante para alguém desperto pro dia e como uma última olhada digo feliz aniversário.
Você está ok.