Curiosidade
A manhã de sábado estava com o total brilho. O sol estava forte, pois era o final da primavera. Os pássaros cantavam os mais lindos cânticos, pois abrilhantavam ainda mais aquela vistosa manhã.
Dona Auxiliadora estava firme. Contava com seus oitenta e tantos anos. Ia à missa toda a semana, geralmente aos domingos, no horário das dez horas. Porém, neste dia, a agenda foi diferente. A tataraneta seria batizada e a cerimônia de batismo foi no sábado, pois haveria festa no domingo e a pastoral resolveu antecipar.
Com uma bolsa pendurada ao ombro, do lado direito, entrava ela pelo templo afora. Usava um vistoso vestido de cor azul, que ia até os joelhos. Nos cabelos brancos, estavam uma tira de seda na cor azul e algumas ramonas pretas. O penteado foi feito pela própria neta, uma excelente cabeleireira da cidade. Nos braços, já com marcas de algumas rugas, um lindo relógio preso a uma pulseira de couro, na cor preta. No braço direito, ainda levava consigo algumas pulseiras que foram presenteadas pelo filho mais velho. Nas mãos, vários anéis estavam espalhados que se misturavam ao lindo e bem pintado esmalte, na cor vermelha.
Entrou. Sentou-se ao lado da neta. Fez algum comentário bem baixinho ao ouvido dela. Com a mão direita, tocou o rostinho da criança. O tempo passava e muito aflita, sempre olha ao relógio e imaginava que a cerimônia estava demorando muito para iniciar. Olhava para frente e via muitas pessoas. Mais uma vez, olhava para o lado de trás e sempre olhando a todo o instante. O forte calor fazia com que a temperatura interna aumentava. Cochichando mais uma vez ao pé do ouvido da neta disse em voz bem baixinha que o padre já havia chegado. Ela o viu passar no lado de fora da igreja.
Olhou mais uma vez para frente. Deu outro olhar para cima e viu que os ventiladores foram ligados. Respirou aliviada e mostrou para a neta o rodopiar das hélices. Pareciam estar paradas. Encantou-se mais uma vez e fez sinal de joia para uma conhecida que se posicionava no outro banco, um pouco mais à frente.
A cerimônia não começava. Dona Auxiliadora estava sem paciência. Olhava no relógio por várias vezes e pensava consigo mesma que estava tudo errado. O calor estava insuportável e o suor já dava ar de início. Se começasse a suar, a pouca maquiagem ficaria borrada e não daria certo nas fotografias.
Por um pequeno momento ela ficou parada. Não sabia o que fazer. A neta, o marido dela e os padrinhos estavam conversando entre si. A conversa não chegava até ela. Começava a ficar irritada pela falta de atenção dos que estavam ao lado. Repentinamente, ela se levantou do banco. Pegando a bolsa e colocando do lado esquerdo do ombro, ela foi ao banco da frente. Sentou-se no pouco espaço ali e perguntou:
- Que criança mais fofinha. Qual será o nome dela?
A mãe da criança imediatamente respondeu:
- Ela será chamada de Jordânia. É um nome raro. Este nome representa uma pequena homenagem ao Rio Jordão.
- Muito bonito, respondeu Dona Auxiliadora.
- Diga-me uma pequena coisa:
- Você é filha de quem?
- Sim. Eu sou filha do vereador Antônio. Ele também é funcionário do hospital.
- Conheço. Ele é muito bom. Tem educação com o tratamento da gente. Eu sempre vou até lá. Já estou um pouco velha, mas o coração ainda é de criança. Logo ali atrás, está a minha neta. Ela também vai batizar a filhinha dela. A criança é muito bonita.
Ficou um pouco ali e a moça não deu muita atenção, pois conversava com o marido e os padrinhos da criança. Meio desapontada, ela se levantou e foi logo para o banco da frente. Ali estava outro casal. Sentou-se e foi logo fazendo as mesmas perguntas, com os mesmos assuntos e sempre puxando conversa. De tanto conversar, as pessoas não davam mais atenção. Sentindo que estava por fora das conversas, Dona Auxiliadora foi-se retirando e passando para o outro banco da frente. Sempre fazia as mesmas perguntas. As pessoas se distraiam conversando entre si que deixavam Dona Auxiliadora fora das conversas. Ela fazia a mesma coisa e quando o padre iniciou a cerimônia, a anciã já havia percorrido todos os bancos da igreja e conhecido todos os que ali estavam.