Um dia frio.
Era um dia frio. Levantei-me às seis horas da manhã. Andei em direção ao banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes, penteei o cabelo. Ao regressar à minha cama, sentei-me na mesma, enquanto mastigava uma bolacha Cream Craker, juntamente com um copo de leite, com Nescau. A mente ainda vaga, mas já pensava e programava o dia.
Ao entrar no ônibus, alegro-me, pois vejo uma cadeira vazia, à janela, onde de costume, abro um bom livro e deleito-me em suas palavras. O veículo parou. Um pequeno engarrafamento provocara a breve estagnação. Olhei pela janela e avistei um homem incomum. A pele escura, queimada do sol. A barba crescida e sem sinais de cuidado algum. Os olhos baixos, vazios de esperança. As roupas sujas e amarrotas, ainda piores visualmente pois estavam rasgadas e com enormes buracos, parecia-me a ação do tempo acompanhada de um descaso imensurável.
Este homem, andava à passos curtos e desajeitados. Observei-o com os olhos fitados quando aproximou-se de um contêiner cheio de lixo. As mãos sujas e tremulas abriam os sacos com violência. Nada achara a não ser lixo. Avistou outro contêiner e fora verificá-lo. Neste, conseguiu apanhar uma pedaço podre de carne. Imaginei o cheiro somente de olhar. O que para mim pareceu fétido, apodrecido e incomível, para ele estava apetitoso e lhe dava prazer. Tentei me conter, mas em vão. Lágrimas vieram aos meus olhos. Chorei por ver um semelhante passar por isso.
Quem dera eu, não ter comido todas as bolachas Cream Cracker, e ter guardado algumas para ele. Não imaginava o motivo pelo qual tal sujeito se encontrava naquela situação desumana, mas isso não importava. Simplesmente chorei por lembrar que ele e mais milhares de indivíduos viviam de maneira tão miserável e melancólica. Nunca mais as bolachas tiveram o mesmo sabor.
Quem me dera ter o poder e a sabedoria de um deus para não fazer sofrer alma nenhuma. Para aliviar a dor do coração cansado e faminto. Quem me dera!