Nem sempre a verdade

Pai, meu professor de geografia pirou, disse meu filho ao voltar do colégio.

A piração do professor eu entendi sem esforço, mas o riso do moleque não. Então perguntei: como assim “pirou”?

Ah, sabe, no meio da aula ele começou a falar sobre a questão do óleo em nossas praias, daí enveredou por política, geopolítica e berrou: “o mundo se acaba desde antes de a serpente enrolar Eva e tudo é culpa dos americanos, de Trump e desse nosso presidente maluco, o problema de ensinar as vocês, garotada, é esse: tudo que eu disser de ruim, tem que ser culpa do Imperialismo Yanke, embora eu saiba que vocês já são espertos o suficiente para saberem que não é bem assim, mas tenho que insistir nisso ou perco meu emprego. Não aguento mais, não aguento mais”, daí pai, ele começou a bater na mesa e olhou a turma e disse, “vamos, quero as gargalhadas” daí a gente gargalhou e ele encerrou a aula.

Então eu disse, bem filho, afinal, depois de tanto tempo, acabei por descobrir que você tem um professor lúcido e que a fortuna que pago ao Marista vale o choro do meu bolso.

No dia seguinte o guri voltou da aula com cara de apocalipse, não quis dar muita atenção, afinal, aos 17, temos alguns apocalipses por semana, mas mesmo assim perguntei: e hoje, quem pirou?

Ninguém, pai. Só o professor de geografia que foi demitido.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 31/10/2019
Reeditado em 11/12/2019
Código do texto: T6783848
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