Conto das terças-feiras - Os quatro amigos

Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 22 de outubro de 2019

Amigos inseparáveis, desde o Ensino Fundamental I. Todos entre 18 e 20 anos de idade e com pouca experiência na vida. O mais novo, Pablo, tímido, caseiro e muito estudioso, de pais católicos, a criação desse filho alicerçou-se no respeito e dentro de preceitos religiosos. Confiavam nele e outorgavam-lhe plena liberdade, que até aquela data ele não os havia decepcionado.

Já os outros três amigos eram mais levados, mais corajosos e nada tímidos. Respeitavam as atitudes de Pablo, mas gostariam que ele fosse mais ousado. Até os 18 anos nunca havia namorado, só alguns interesses em colegas de sala de aula, que a timidez não o deixara ir além disso. Assim, ele se refugiava frente ao computador, jogando ou vendo filmes, quando não estava agarrado aos livros. Os amigos gostavam disso, era ele quem tirava as dúvidas sobre assuntos mais complicados de matemática, física e química.

Eram garotos alegres, brincalhões e muitos requisitados pelas colegas em dias de festa, onde raramente Pablo acontecia. No outro dia de uma festa, o garoto sempre procurava saber o que acontecera, quem estivera presente, quem dançara ou ficara com quem. Ele se deliciava com os detalhes, justificando que não fora porque tinha que estudar para a prova do dia seguinte. Deixava claro que a próxima ele não perderia.

Outro dia o trio o convidou para se encontrar e combinar o que fazer naquela noite, dizendo que ele não poderia recusar, pois não haveria prova no outro dia. Sentindo-se encurralado, o jeito foi aceitar o convite. Ficou acertado que depois das vinte horas, iriam apanhá-lo na casa dele. Era costume nessas noitadas jogarem videogame na casa de um deles. O garoto, como fazia sempre, reservou o seu 3DS, juntou alguns jogos e o seu inseparável celular, que usava também para jogar.

Os amigos foram pontuais, apanharam Pablo exatamente às 20 horas. Depois das saudações de costume, rumaram para o centro da cidade, onde nenhum deles morava. Isso encafifou o último ocupante do carro, Pablo, que procurou saber para aonde iriam. Todos os três amigos, em uma só voz, gritaram, — é surpresa!

A parada foi em frente a uma velha casa, esquisita pelo aspecto e estranha pelo movimento que se via do lado de fora, na calçada, homens e mulheres conversando, se beijando, se agarrando, ou só apreciando. Para Pablo tudo aquilo era estranho, nunca havia visitado o centro à noite, achava que por ser área comercial, todas as casas estariam fechadas àquela hora. Para não demonstrar que estava constrangido, nada falou.

Os quatro amigos desceram do carro, entraram, sondaram o ambiente e procuraram se acomodar em uma mesa vazia, com duas cadeiras, alguém trouxe mais duas, se comportavam como fregueses habituais. Só Pablo que não. Tinha música e mulheres rondando as mesas. Dois ou três casais dançando. Em uma mesa perto do palco, dois senhores de idade contavam seus trocados para saber quantas danças os dois ainda poderiam pagar, estavam de olho numa baixinha morena e de belo corpo, de meia idade. Eles já haviam dançado com ela três vezes, cada.

Um homem, que parecia ser garçom, aproximou-se do quarteto e perguntou se iriam beber e o quê. Pablo se apressou em saber se havia Wi-Fi. O homem que parecia ser garçom, olhou para quem lhe inquirira, fez uma cara de espanto e respondeu que não. Nenhum dos amigos havia notado que ele trouxera o seu aparelhinho de jogar. A risada foi geral, Pablo ficou sem entender.

Sérgio, um dos amigos levantou-se, pegou pelo braço uma mulher que passava e começaram a dançar. Depois de alguns minutos ele se dirigiu para o lado de um corredor e entrou em um dos quartos ali existente. A curiosidade deixou Pablo inquieto, que perguntou: — O que ele foi fazer ali? Ninguém respondeu.

Paulo, outro amigo, chamou o garçom e perguntou: — Eu posso fumar aqui? Recebeu como resposta que ele poderia fazer tudo o que desse na telha. Até transar em cima da mesa, que ninguém iria se importar.

Foi aí que Pablo, até agora ignorado pelos amigos perguntou: — De quem é o aniversário? De quem é esta casa? O garçom, percebendo a ingenuidade do garoto: — Não tem aniversário nenhum, aqui é uma casa de prostituição, um bordel, um lupanar!

Para Pablo todas aquelas palavras eram novidades. Procurou no dicionário de seu celular o que elas queriam dizer. Percebeu que estava em um lugar enigmático, que ainda precisava conhecer muito da vida. Saiu daquele lugar satisfeito por ter aprendido algo mais, graças aos amigos.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 22/10/2019
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