O desarranjo

Ao chegar em casa após uma noitada, Simón Robledo não encontrou a esposa, Rosalina. Não se lembrava dela ter dito que iria sair ou que tinha algum assunto urgente a tratar. Sobre a mesa de centro da sala de estar, havia um envelope de papel manilha tamanho ofício, com um cartão branco preso nele por um clipe. Ao apanhá-lo, Robledo viu que seu nome estava escrito no cartão, à lápis. E dentro do envelope...

Robledo deixou cair o conteúdo do sobrescrito no carpete, e desabou num sofá próximo, subitamente sóbrio. Não era possível! Foi então que o telefone tocou, sobre uma mesinha próxima. Estendeu o braço e apanhou o receptor.

- Simón? - Ouviu do outro lado.

- Rosalina? Onde está? - Indagou atarantado.

- Bem longe daí, Simón. Bem longe - foi a resposta tranquila. - Viu o material no envelope que deixei?

- Eu... eu posso explicar, Rosalina!

- Você não pode explicar nada, Simón. Nós tínhamos um trato, Simón; você quebrou esse trato.

- Não podemos conversar sobre isso por telefone... preciso te ver!

- Sem mais conversas, Simón. Já avisei ao conselho de administração que você está destituído da presidência. Seu acesso à sede da companhia foi revogado, suas senhas canceladas. Se ainda tem alguma dignidade, sugiro que chame um táxi e vá para um hotel. Quando eu voltar para casa, amanhã, não quero encontrá-lo. Só nos veremos agora para homologar o divórcio, que está sendo preparado pelo meu advogado.

E num tom que não admitia dúvidas:

- Você vai perder tudo, Robledo.

- [21-10-2019]