A CASA DO SÍTIO CARVÃO
A CASA DO SÍTIO CARVÃO
Era uma casa grande de tijolos enormes e janelas largas. Na casa havia um paiol onde guardava-se o arroz da colheita e/ou o algodão da safra do ano. A cozinha era grande e cheirava a lenha queimando no fogão de barro com trempes de ferros para sustentar as grandes panelas de argila, muitas já gastas e pretas de tirna da fumaça que a lenha soltava.
Abaixo do fogão havia um forno para os assados que, em tempos de festas, fumegava e o cheiro bom de boa comida perfumava a casa inteira.
A casa era toda de piso raso, todo ele era chão de terra batida. Para varrer aguava-se o piso para não levantar poeira.
Nos quartos tinham grandes camas de madeira pesada e colchões de junco, ninguém sofria de escoliose ou lordose. Contavam-se tantas janelas na lateral da casa que muitas não eram abertas há anos.
Havia um salão logo na entrada da casa onde meu pai costumava receber os trabalhadores da roça para lhes pagar a diária ou lhes passar as tarefas do dia seguinte .Também havia uma saleta pequena entre o meu quarto e o de minha mãe que servia de ateliê de costura. Certa vez, durante a noite, minha mãe e minha irmã estavam costurando roupas para os trabalhadores e pelo chão se estendiam muitos retalhos. Na hora de juntá-los para guardar, minha mãe confundiu uma cobra coral com uma tira de tecido e foi um "Deus nos acuda". A cobra foi pisoteada.
A família era pequena, meus pais, minha irmã com uma filha pequena, de um casamento que não deu certo, meu irmão e eu.
... "ó de casa"... "está aí gente?"
Chamavam com as leiteiras na mão
Quando antes da lua subir
O quentinho leite lá iam pedir
E ti' Miquas ia a ordenhar suas vacas
Pois eram o único sustento de leite
Que buscavam por aquelas bandas
Em tardes em que se ia p'ra Norte
A caminho da casa do morador Zezito
de nome já esquecidos
Que com brio no moinho se viam
As pedras sob a água límpida
De contentes a rodar pareciam
Com gosto uma canção entoar
Pois sabiam que pão se iria cozinhar
A vida parecia alegre e leve
Já os dias eram longos
Dizia o Avôzinho, após a ceia
Que no campo o trabalho fora árduo
Pelo que antes do galo cantar
Já Ele se avistava lá no cimo a trabalhar
Maria Tecina Santos
Natal 18 de outubro de 2019