Conto das terças-feiras – Almoço de Lua de mel em Salvador - BA
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, 15 de outubro de 2019
Lua de mel, primeira viagem de avião de ambos, ela, gaúcha, ele, cearense, agora marido e mulher, casamento realizado dois dias antes, tudo acontecendo às mil maravilhas. O destino, a capital do estado da Bahia, Salvador, sonho de consumo dos recém-casados.
Ao chegarem em Salvador hospedaram-se em um pequeno hotel localizado na orla marítima. Era madrugada de uma quinta-feira, fazia calor e, cansados, foram logo dormir. Antes conversaram sobre o que iriam fazer na sexta-feira. Ele gostaria de dormir até tarde, só acordar na hora do almoço, sua intenção era provar a comida baiana, in situ. Ela concordou.
Pela manhã, sem tomar café, os dois se dirigiram à recepção para pedir informações sobre restaurantes típicos, que não fossem localizados em regiões consideradas nobres, com receio dos preços cobrados nesses locais. O atendente passou-lhes uma revista sobre turismo, com a indicação do pretendido. Os dois foram para o lobby do hotel e, enquanto folheavam a peça publicitária, outro casal sentou-se ao lado deles. O homem, segurando a revista sobre turismo, disponibilizado pelo hotel, falou para a esposa, o que uma pessoa escrevera a respeito de um restaurante:
O casal em lua de mel, Mariana e Reinaldo, não conteve a curiosidade e perguntou ao outro casal sentado ao lado:
— Vocês estão procurando por restaurante?
A resposta foi sim, os dois casais se apresentaram e combinaram irem juntos, já que ninguém ali, conhecia Salvador. As preferências eram idênticas, restaurante que oferecesse comida típica baiana e não dispendioso. Folhearam juntos e chegaram à conclusão de que o ideal era se afastar dos lugares tidos concorridos. Encontraram o Restaurante Boca de Galinha. Marília, fazendo a leitura do que dissera um usuário, alertou para o que a revista descrevia, restaurante como de bons preços e atendimento razoável:
— Em Plataforma, no Subúrbio, um encanto de lugar. A moqueca é deliciosa e a vista do restaurante é incrível, leu Marília para Mariana e Reinaldo.
A preocupação ficou estampada no rosto de Mariana, ela era alérgica a frutos do mar. Essa inquietação foi logo dissipada, o nome do restaurante parecia indicar que ali também eram servidos outros pratos, por exemplo, à base de galinha.
O casal Oswaldo e Marília haviam alugado um carro e todos foram juntos, à busca do “famoso” Boca de Galinha. O gps do celular de Oswaldo indicava a distância de 25 km entre o bairro da Pituba, onde estavam hospedados, e Plataforma, localização do Boca de Galinha, com percurso a ser percorrido em 42 minutos. Depois de alguns contratempos e solicitação de informações, ficaram sabendo que o local preciso era São João do Cabrito.
Felizmente chegaram bem, todos com muita fome e ávidos para saborearem a comida baiana. Menos, é claro, Mariana, que ao pesquisar no “cadernato” – cardápio –, percebeu que não serviam outra coisa, só Mariscada, Camarão com lagosta, Camarão, Beijupirá, Dourado, Vermelho, Caçonete e Arraia, e os acompanhamentos, arroz, feijão e pirão. Tem ainda agulha frita, lambreta, camarão ao alho e óleo, entre outras opções, mas só a base de frutos do mar.
Indignada, Mariana chamou o garçom e perguntou se não serviam frango, galinha, já que o nome do restaurante era Boca de Galinha. O atendente, um pouco constrangido falou:
— O nome do restaurante é por causa que o dono não tem dentes, igual a galinha, concluiu.
A gargalhada foi geral, que contaminou até os que estavam em mesas próximas aos dois casais.
Mariana então perguntou o que ela iria comer. A sugestão foi ovo de codorna, alface e tomate, ingredientes da salada de verdura que acompanhava alguns pratos.
Os três, Reinaldo, Oswaldo e Marília fartaram-se a mais não poder da comida baiana. Enquanto a recém-casada teve que se contentar com meia dúzia de ovos de codorna, um tomate cortado em rodelas e três folhas de alface. Da comida baiana só experimentou o cheiro. Episódio que será contado, jocosamente, até a terceira geração da dupla Reinaldo e Mariana.