Gerações

Ela atendeu o telefone, e era o pai. A surpresa é que ele queria estar presente para o nascimento da neta.

- Filha única, primeira neta. Acha que eu iria perder isso? - Inquiriu ele em tom brincalhão.

- Você sempre foi tão ocupado, pai. Confesso que não esperava que achasse uma brecha na agenda por mim… e não estou sendo irônica - confidenciou.

- Eu não me perdoaria se não achasse - replicou o pai. - E o hospital? Vocês já têm tudo marcado, imagino.

Ela hesitou.

- O parto vai ser natural, pai. Em casa.

Silêncio.

- Que maluquice é essa agora? Isso foi ideia dele, suponho.

- Bem… sim - admitiu ela, constrangida. - Mas foi meio que um consenso… somos contra o sistema, cesarianas com hora marcada, esse tipo de coisa antinatural.

Do outro lado da linha, o pai emitiu um grunhido.

- Ir para uma maternidade significa proteção para a criança, caso algo dê errado no parto. Espero que ele não esteja também querendo bancar a parteira…

- Não, a parteira nós contratamos - assegurou ela.

- Mesmo assim, isso não me parece certo - replicou o pai. - Quando eu chegar aí, conversaremos.

***

- Seu pai não pode te obrigar a ir para um hospital só porque não confia no parto natural - disse ele ao saber que o sogro estaria chegando para acompanhar o nascimento da neta.

- Ele disse que… talvez fosse mais seguro para a criança - explanou ela sem muita convicção.

A parteira, que assistia a conversa, resolveu apartear.

- Já fiz mais de 30 partos em casa, e são perfeitamente seguros. Em caso de alguma complicação, que não creio que haverá no seu caso, pois acompanhei todo o seu pré-natal, uma ambulância estará aqui em poucos minutos.

- Viu? - Disse ele em tom triunfante. - Nem você nem seu pai, têm com o que se preocupar.

Ela se deu por vencida.

***

O pai avisara que ficaria hospedado num hotel próximo, para não atrapalhar a rotina do casal. Informado que a bolsa da filha estourara, avisou que logo estaria chegando. De fato, instantes depois, a campainha tocou e o marido foi atender. Para sua surpresa, o sogro não viera só, havia uma mulher com ele.

- Trouxe uma amiga, a dra. Rosalynd - anunciou, com um grande sorriso.

- Doutora? - Questionou o genro com suspeição.

- Obstetra - identificou-se a médica. - Se a sua esposa não vai ao hospital, o hospital vem até ela. Eu não vou interferir no trabalho da sua parteira, só vou ajudar, caso haja necessidade.

O genro admitiu que era uma solução razoável. E deu as boas vindas aos visitantes.

[12-10-2019]