Incerteza

- O que você quer fazer agora? - Indagou ela, quando pararam no meio da ponte ao entardecer, contemplando as águas escuras e tranquilas do rio abaixo.

- O que poderíamos fazer? Eu não sei… acho que deveríamos apenas… continuar - redarguiu ele em tom pensativo, mãos apoiadas na balaustrada de pedra.

- Você quer mais tempo para pensar? - Sugeriu ela, olhos baixos. Não por modéstia, mas para fugir do contato visual.

- É uma decisão importante - admitiu ele. - Mas não sei se precisamos de mais tempo do que já tivemos.

- Então… o que você sugere? - Indagou ela, erguendo finalmente a cabeça e o encarando.

Ele remexeu num dos bolsos do casaco e dele sacou uma moeda.

- Eu poderia atirar uma moeda - ponderou, exibindo-a entre o indicador e o polegar.

- Acha que essa é uma maneira decente de resolvermos a nossa história? Jogando uma moeda para o alto? - Questionou ela, muito séria.

Ele deu de ombros.

- Ao menos, será um modo rápido.

- Talvez fosse melhor jogar a moeda no rio e fazer um pedido - avaliou ela.

Ele lançou-lhe um olhar inquisidor.

- Isto é um rio, não o poço dos desejos. Que espécie de respostas acha que irá obter?

- Se não jogar, não terá resposta alguma - retrucou ela com ar cansado, apoiando as mãos na balaustrada como ele fizera a poucos instantes.

Ele olhou para o poente, onde o sol se punha entre nuvens tempestuosas, e jogou a moeda para o alto. Ela brilhou por um momento, e depois precipitou-se em queda livre. Não chegou a cair na água, contudo, mas dentro de um bote que acabara de passar sob a ponte naquele momento. O único ocupante olhou para cima, preocupado.

- Ei, não joguem lixo no rio! - Gritou.

- Foi uma moeda, pode ficar com ela - explicou o rapaz. - Poderia ver se deu cara ou coroa?

O homem olhou para o fundo do barco e deu uma risada.

- Você não vai acreditar… ela caiu sobre uma rachadura e está de pé!

Ele e ela entreolharam-se, enquanto o bote se afastava rio abaixo, e depois sorriram.

- O universo parece que não quer tomar a decisão por nós - declarou o rapaz.

- E o que faremos a esse respeito? - Indagou ela.

- Vamos para casa, comprar o enxoval do bebê - decidiu-se ele.

Deram-se os braços e saíram juntos pela ponte, no sentido inverso ao que haviam vindo.

[11-10-2019]