LENDA URBADA DA GENTILÂNDIA: HISTÓRIA DAS ESTÁTUAS
março 03, 2018
Na Gentilândia, há duas estátuas, uma de frente pra outra, em um eterno e terno encontro. De modo naturalmente urbano, ora elas estão pixadas, ora cores uniformes são aplicadas pelo Estado. Há o boato sobre elas, situado na época em que o bairro Benfica estava começando a ser ocupado por trabalhadores e populares, logo após a chegada do sr. Gentil, de Sobral para Fortaleza.
Sr. Gentil e sua família moravam próximo a uma praça rodeada de casas alugadas pela imobiliária José Gentil S/A. Quase todos os moradores trabalhavam para ele. Sua família era tão influente que mandaram construir a Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, localizada, hoje, no início da Av. Universidade, e suas casas, hoje, são de propriedade da Universidade Federal do Ceará.
Quase não se fala, mas ao lado de Gentil ficava o Sr. Vitoriano, seu sócio e chefe administrativo dos imóveis. O que não se podia ignorar era que esses dois rapazes se encontravam todas as tardes na praça da pequena vila, de domingo à domingo, retirando os dias chuvosos. É possível imaginar com nitidez, na mesma distância que há entre as duas esculturas de busto: a tarde iluminando aquela contemplação recíproca, um tragando de um lado, e de outro, o charuto a crepitar. Ambos com as mãos suadas
O cotidiano seguia com esses encontros. Eles não percebiam – ou talvez não fizessem muita questão, visto que a maioria eram seus subordinados – mas olhares lançavam reprovação, bocas cerradas cochichavam enquanto dedos juízes ficavam apontados com rigidez, mesmo que escondidos no bolso.
Dizem que esse romance foi assistido por anos, mesmo que, em paralelo, sr. Gentil tenha tido cerca de quinze filhos com sua esposa. E assim, em mais um espaço, a hipocrisia machista imperava no reino do implícito.
Com toda a Gentileza do tempo, as estátuas fincaram, e a praça da Gentilândia – espero ainda poder afirmar isso – passou a ser reconhecida popularmente como um ponto de diversidade LGBT da cidade, mostrando ao ar livre a diversidade das tardes, dos encontros, dos desencontros e de todos os sentimentos e lembranças.