A lua não é dos namorados

Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a

humanidade. (Neil Armstrong)

Quarta-feira. É a grande final do campeonato brasileiro entre Atlético Mineiro e Flamengo. A multidão está na rua a caminho do estádio. Fogos pipocam no ar. Zé Mineiro está na fila, com centenas de torcedores, para comprar cinco ingressos. Atento, ouve no radinho de pilhas o locutor anunciar o fenômeno do eclipse da lua, e se interessa pelo assunto.

É a oportunidade inédita para ver o fenômeno a olho nu. A Terra vai fazer sombra à lua e o eclipse será de uma hora e quarenta minutos. Aquela notícia dá uma reviravolta nos planos de Zé Mineiro. O ruído ensurdecedor dos flamenguistas arrefece a vontade de assistir ao jogo. Na hora de comprar os ingressos, enfia a mão nos bolsos, e cede o lugar ao próximo da vez. Afasta-se dali, remexe novamente os bolsos, mas o dinheiro sumiu.

No portão principal, torcedores com camisetas em vermelho e preto, acenam bandeiras e entoam o hino do clube no ritmo frenético da bateria: "Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer..." No impulso, Zé Mineiro chama os quatro amigos para tomar cerveja na sua casa e ver o jogo pela televisão, tudo por conta dele. Afinal, nenhum deles é flamenguista ou atleticano. Só queriam testemunhar a derrota do inimigo. Quanto ao dinheiro, ainda não é o momento para falar de perdas.

Sentado estrategicamente de frente para a janela, ele se acomoda na cadeira de balanço, espia a lua e fica matutando: como explicar aos companheiros que perdera todo o dinheiro dos ingressos? Mas esse é um problema para resolver num outro dia. Por nada no mundo perderia a chance de ver a lua eclipsar. Homem simples, defensor da natureza, ele se encanta com os mistérios do céu.

A televisão está ligada na sala. Enquanto as equipes não entram em campo, os amigos aproveitam para prosear entre um copo e outro de cerveja. Conversa vai, conversa vem, e Zé Mineiro diz que ouviu no rádio sobre o grande acontecimento do ano e conta que vai acontecer um eclipse no universo.

Juscelino, que estuda astronomia, se aproxima e explica que o mundo celebra cinquenta anos, desde que a Apollo 11 decolou da Terra rumo à lua. O comentário sobre o satélite e suas curiosidades atrai a atenção de todos.

Zé Mineiro segura o copo na mão direita e presta atenção às informações. Leva a mão esquerda ao queixo, franze a testa e aperta os olhos, com ar de quem vê o caos se instalando. Com a incredulidade estampada na fisionomia, ele faz caretas e finge que entende tudo sobre o assunto. Mas não perde nenhum detalhe da conversa, curioso para compreender os segredos do infinito.

Desidério, entusiasta pelos temas científicos, cruza e descruza as pernas; levanta as mãos no gesto apelativo e abre a verborragia. A lua é que nem um bebê que aprende a andar, devagarinho, dando pequenos passos. Desde que o homem pisou na superfície lunar, o mundo revelou grandes progressos. O sonho da conquista do cosmo ganhou os programas espaciais e deixou o homem cada vez mais perto de outros planetas. Hoje vários robôs pesquisam no espaço.

O advogado Mariano conta que a Nasa investiu bilhões de dólares e realizou a maior missão de todos os tempos para enviar o homem à lua. Que eles gravaram tudo em VHS e quando voltaram alguém esqueceu de fazer backup, e por isso, sumiram com a gravação; um funcionário relapso gravou por cima da fita. Meio século depois, a única coisa que eles encontraram foram os micrometeoritos do tamanho de uma partícula de areia e, no máximo, uma bola de gude.

Juvenal, que nunca concorda com nada, contesta a narrativa. Os astronautas foram para a lua e tiraram uma foto para mostrar que a terra é bem pequenina. O piloto da nave flutuou no espaço e deixou suas pegadas no solo lunar. Mas onde está a foto dos rastros da espaçonave? É por isso que dizem que os americanos fizeram uma montagem no quintal de uma casa e filmaram o cenário para o mundo.

Na conversa dos especialistas em lua, Zé Mineiro não se mete e fica quieto no seu canto, só escutando. Melhor não dar palpite. No entanto, Danilo não o deixa quieto e provoca:

– Seu Zé, o senhor lembra quando o homem foi à lua?

– Não lembro, não, senhor. Não tenho paciência, não...

– As notícias estão na imprensa e existem filmes. O senhor acredita que o homem foi a lua?

– Oiá, moço! O homem foi na lua do mesmo jeito que o Palmeiras foi campeão mundial. Uai! Quando chega uma mentira mal contada, a gente acredita pela força do hábito.

E os cinco torcedores do Cruzeiro alongam a prosa, esquecem o jogo na televisão, mas quedam a noite entre a lua, a cerveja e as estrelas...