Então, ele já sabe?

O amor é o espaço e o tempo tornado sensíveis ao coração.

Marcel Proust

Naquele fim de tarde, Geraldine ouve a conversa que a deixa intrigada. A futura sogra diz a sua arquirrival: Ele já sabe, e vai conversar com ela. O diálogo sem pé nem cabeça dá o que pensar. Então, Alberto já sabe e só espera o momento adequado para tomar a decisão. É o fim do relacionamento.

O fato é que ela tinha ido longe demais. A dois meses das núpcias, as amigas armaram a sua despedida de solteira. Um congresso no Rio de Janeiro, com direito a uma noite inesquecível de diversão e aventura. Sente calafrios só de pensar no dia em que Alberto descobrir o deslize, embora tudo não passasse de brincadeiras.

Ele sabe tudo é a deixa que aflora certo sentimento de culpa. Noites de insônia e aquelas palavras desconexas ameaçam desmoronar seu castelo de sonhos. O noivo anda às voltas com a conclusão do doutorado, e por isso, o silêncio não desperta estranheza. A conversa, por obra do acaso, tem tudo a ver com a sua realidade.

Na manhã seguinte, Alberto se mostra monossilábico e lê um texto do trabalho da faculdade entre um gole e outro de café. Deixa transparecer uma profunda introspecção. Ao término do desjejum, enquanto fecha o livro, sem mais delongas, diz em tom inquisitivo:

—À noite, precisamos conversar, Geraldine!

As palavras soam como um tiro a queimar roupa. Geraldine não tem dúvidas de que o chamado é a confirmação da conversa que ouvira e entra em estado de choque. Um raio talvez não tivesse efeito tão devastador. Não esboçara nenhum gesto. Por mais que tentasse dizer algo, a voz fica presa na garganta.

Ele levanta-se da mesa, dá-lhe um beijo na testa e sai sem dizer nenhuma palavra. Está apressado, ou talvez, não quisesse lhe dar tempo de questionar o assunto. Atônita, ela o vê desaparecer pela porta. Quando escuta o ronco do motor de carro, está a sós com seus pensamentos em total estado letárgico.

Sete anos de namoro. Conhece o temperamento de Alberto e ele não perdoa traição. Imagina a decepção e a tristeza dele. Talvez saiba da mensagem de seu affaire (o rapaz que deixara sem esperanças na festa). Sombras pairam sobre o seu destino. O encontro é apenas para dizer que se casar não tem mais sentido.

Quase às vésperas do casamento. Tudo pronto. A festa e os convidados. A mansão em que vão morar é um palácio encantado. De um lado, a visão da montanha; do outro, o mar e a praia. A sala de jantar destaca o brilho dos lustres. As flores no jardim adornado com estátuas de mármore. A fonte que jorra correntes de água cristalina. Tudo obra de um decorador francês, amigo de Alberto.

À tarde, recebe a mensagem de Alberto, convidando-a para jantar no melhor restaurante da cidade. Ele acrescenta a frase: Tenho uma surpresa para você, e desliga o celular, pois está em aula.

À noite, a maquiagem esconde os olhos cansados de tanto derramar lágrimas. O constrangimento invade a alma. É tarde para se arrepender. Naquele momento, o que ela mais quer, é que o chão se abrisse e a engolisse para sempre.

Enquanto aguardam o prato especial da casa, Alberto faz um brinde ao encontro e diz:

– Já decidi onde fazer meu doutorado, e sorri.

E, num gesto carinhoso, segura as duas mãos de Geraldine e olhando dentro de seus olhos, repete o convite:

— Você quer casar comigo e morar na Inglaterra?