QUÍRIA - CAPITULO I
Val nunca vira seu avô tão tranquilo indo para uma reunião escolar. Quando estudava naquela mesma escola sabia que se ele fosse chamado à diretoria era capaz de derrubar a casa, mas quando se tratava de Quíria tudo era normal, “coisa de criança” como ele dizia.
Era a segunda vez na mesma semana que se dirigia à escola porque Quíria tinha aprontado alguma coisa.
Enquanto caminhava pelos corredores até à diretoria, pensava que graças à boa educação que tiveram, ela e o irmão puderam ingressar no curso de medicina, ele cursava o primeiro período, enquanto ela já estava no segundo.
Viver com seus avós lhes proporcionara uma vida que seus pais nunca poderiam ter lhes dado. Quíria não podia jogar a oportunidade fora.
Enquanto aguardava serem recebidos, Val resolveu ir ao banheiro.
Percebeu que continuava o mesmo. Apesar do rigor do colégio militar, adolescentes são adolescentes e não demorou muito para encontrar seu nome numa das portas do banheiro, meio escondidinho, mas ainda estava escrito: “Valéria a poderosa”. Sorriu das brincadeiras daquele tempo.
Valéria, nome raramente usado, tão acostumada com Val que até o esquecia, às vezes. Os pais de Valéria parece que queria formar a dinastia do "V", assim colocaram os nomes dos filhos de Valéria, Valquíria e Valder. Como a chamavam de Val, sua irmã mais nova passou a ser chamada de Quíria. Apelido que ela detestava, pois queria Val.
Quíria era uma garota de personalidade forte e desde que começou a frequentar a escola quase toda semana tinha uma reclamação, porém, tanto os professores como seus avós acabavam sendo convencidos pelo carinho e docilidade da garota, apesar das travessuras. Até mesmo Valéria fazia o que Quíria queria, principalmente, por se sentir culpada pela ausência dos pais, mortos tão precocemente, sabia que a irmã caçula foi a mais afetada por ainda ser bebê quando seus pais morreram.
Na semana anterior o professor de redação chamou seus avós por causa de uma redação em que Quíria usou palavras não apropriadas para garotas da sua idade.
O professor, senhor Garzola, frisou mais de uma vez: como uma menina de oito anos pode escrever bunda numa redação?
Val nem achou tão ruim o texto. Pelo contrário, achou até espontâneo o escrito que dizia: “O milho de pipoca é um milho que quando esquenta a bunda na panela ele solta peidos brancos”.
Bem... o professor não gostou.
Ao entrarem na sala do diretor Quíria estava sentada num cantinho. Sentiu pena da irmã ao vê-la ali tão encolhidinha sobre o olhar atento da secretária que mais parecia um xerife.
Seu avó era um homem muito respeitado e ao adentrar em qualquer recinto militar, os militares de patente inferior batiam-lhe continência. Todos lhes tinham muito respeito.
O diretor foi logo explicando.
- Senhor, sua neta não aprendeu ainda a importância da disciplina e hierarquia. Hoje desobedeceu a um professor.
- Como ela pode fazer isso? Pode me dizer em pormenores o que aconteceu, pois pretendo dar -lhe uma correção de caráter.
- O professor mandou que ela se sentasse num determinado lugar e ela se negou a ir, deixando-o desmoralizado. Um comportamento não admitido por esta escola.
‑ Você perguntaram o motivo dela não ir?
- Não senhor. Se o professor mandou ela deveria obedecer.
- É uma criança. Se permitirmos crianças discutindo ordens
do professor, onde iremos parar?
- Tens razão. Deixe-me conversar com ela um minuto.
Quíria fitava o avô e todos os presentes sem demonstrar arrependimento algum.
- Minha querida, você precisa sentar-se onde o professor mandar.
- Precisa pedir desculpas ao professor e retornar à sala de aula.
- Vovô eu não posso porque serei morta se sentar onde ele mandou.
- Quíria. Você não vai morrer. Que história é essa?
- Vovô. Tem um ventilador em cima da cadeira. Ele vai cair e cortar meu pescoço.
Major Alfredo que já tinha visto muitas coisas ao longo da vida, até em campo de batalha, nunca tinha percebido um medo tão real nos olhos de uma pessoa como o viu no da sua neta.
Por um momento, Val lembrou-se que uma vez o ventilador de fato caira em sala de aula e por sorte não feriu uma colega porque ela tinha ido ao banheiro, pareceu até milagre. Mas não sabia de onde Quíria teria tirado aquela ideia.
O Major sabendo que todos ali lhes tinham muita reverência conseguiu controlar a situação. O professor para não vê sua autoridade contestada inventou uma história para justificar a mudanca de lugar da garota, que sorriu para o avô dizendo “eu te amo vovô”.
Era a segunda vez na mesma semana que se dirigia à escola porque Quíria tinha aprontado alguma coisa.
Enquanto caminhava pelos corredores até à diretoria, pensava que graças à boa educação que tiveram, ela e o irmão puderam ingressar no curso de medicina, ele cursava o primeiro período, enquanto ela já estava no segundo.
Viver com seus avós lhes proporcionara uma vida que seus pais nunca poderiam ter lhes dado. Quíria não podia jogar a oportunidade fora.
Enquanto aguardava serem recebidos, Val resolveu ir ao banheiro.
Percebeu que continuava o mesmo. Apesar do rigor do colégio militar, adolescentes são adolescentes e não demorou muito para encontrar seu nome numa das portas do banheiro, meio escondidinho, mas ainda estava escrito: “Valéria a poderosa”. Sorriu das brincadeiras daquele tempo.
Valéria, nome raramente usado, tão acostumada com Val que até o esquecia, às vezes. Os pais de Valéria parece que queria formar a dinastia do "V", assim colocaram os nomes dos filhos de Valéria, Valquíria e Valder. Como a chamavam de Val, sua irmã mais nova passou a ser chamada de Quíria. Apelido que ela detestava, pois queria Val.
Quíria era uma garota de personalidade forte e desde que começou a frequentar a escola quase toda semana tinha uma reclamação, porém, tanto os professores como seus avós acabavam sendo convencidos pelo carinho e docilidade da garota, apesar das travessuras. Até mesmo Valéria fazia o que Quíria queria, principalmente, por se sentir culpada pela ausência dos pais, mortos tão precocemente, sabia que a irmã caçula foi a mais afetada por ainda ser bebê quando seus pais morreram.
Na semana anterior o professor de redação chamou seus avós por causa de uma redação em que Quíria usou palavras não apropriadas para garotas da sua idade.
O professor, senhor Garzola, frisou mais de uma vez: como uma menina de oito anos pode escrever bunda numa redação?
Val nem achou tão ruim o texto. Pelo contrário, achou até espontâneo o escrito que dizia: “O milho de pipoca é um milho que quando esquenta a bunda na panela ele solta peidos brancos”.
Bem... o professor não gostou.
Ao entrarem na sala do diretor Quíria estava sentada num cantinho. Sentiu pena da irmã ao vê-la ali tão encolhidinha sobre o olhar atento da secretária que mais parecia um xerife.
Seu avó era um homem muito respeitado e ao adentrar em qualquer recinto militar, os militares de patente inferior batiam-lhe continência. Todos lhes tinham muito respeito.
O diretor foi logo explicando.
- Senhor, sua neta não aprendeu ainda a importância da disciplina e hierarquia. Hoje desobedeceu a um professor.
- Como ela pode fazer isso? Pode me dizer em pormenores o que aconteceu, pois pretendo dar -lhe uma correção de caráter.
- O professor mandou que ela se sentasse num determinado lugar e ela se negou a ir, deixando-o desmoralizado. Um comportamento não admitido por esta escola.
‑ Você perguntaram o motivo dela não ir?
- Não senhor. Se o professor mandou ela deveria obedecer.
- É uma criança. Se permitirmos crianças discutindo ordens
do professor, onde iremos parar?
- Tens razão. Deixe-me conversar com ela um minuto.
Quíria fitava o avô e todos os presentes sem demonstrar arrependimento algum.
- Minha querida, você precisa sentar-se onde o professor mandar.
- Precisa pedir desculpas ao professor e retornar à sala de aula.
- Vovô eu não posso porque serei morta se sentar onde ele mandou.
- Quíria. Você não vai morrer. Que história é essa?
- Vovô. Tem um ventilador em cima da cadeira. Ele vai cair e cortar meu pescoço.
Major Alfredo que já tinha visto muitas coisas ao longo da vida, até em campo de batalha, nunca tinha percebido um medo tão real nos olhos de uma pessoa como o viu no da sua neta.
Por um momento, Val lembrou-se que uma vez o ventilador de fato caira em sala de aula e por sorte não feriu uma colega porque ela tinha ido ao banheiro, pareceu até milagre. Mas não sabia de onde Quíria teria tirado aquela ideia.
O Major sabendo que todos ali lhes tinham muita reverência conseguiu controlar a situação. O professor para não vê sua autoridade contestada inventou uma história para justificar a mudanca de lugar da garota, que sorriu para o avô dizendo “eu te amo vovô”.