GATO POR LEBRE...
          Entre os inúmeros prejuízos que o tabagismo traz ao ser humano, o espessamento das cordas vocais por edema e laringite crônica, mais evidente em mulheres, trazendo como consequência uma voz grave, praticamente masculina é bastante frequente.  Esse era o caso de Dona Lúcia. Já com quase cinquenta anos e fumante deste os dezesseis, era com frequência tratada de "senhor" pelo telefone. Certa feita, começou a apresentar problemas na coluna lombar que foram aumentando até limitar os seus afazeres diários. Seguindo conselhos de amigos, procurou um ortopedista para cuidar de suas dores. Após realização de exames, radiografia, tomografia, e um exame clínico o médico convenceu-se que D. Lúcia nada tinha de grave, era só uma contratura nos músculos paravertebrais, que dão sustentação à coluna. Receitou-lhe alguns antinflamatórios, e recomendou vinte sessões de fisioterapia. Por questão de comodidade, ela resolveu fazer a fisioterapia no mesmo hospital pois atendiam o seu convênio e era mais perto de sua casa.

           Na data da primeira sessão, D. Lúcia chegou cedo ao hospital, sem acompanhante e dirigiu-se ao setor de fisioterapia. Geralmente esses departamentos são compostos de uma sala mais ampla, dividida em boxes por biombos, possibilitando o atendimento simultâneo a vários pacientes, sob a supervisão de um único técnico. Este deitava os pacientes nos boxes, posicionava os aparelhos quando era o caso, acionava o cronômetro e sentava-se numa pequena antessala esperando os alarmes que anunciavam o termino da sessão de cada um.  Naquele horário só constavam na agenda D. Lucia, e outro paciente, este do sexo masculino. Ambos foram colocados no chamado forno de Bier, um equipamento para aplicação de calor local. Após uns cinco minutos, o técnico ouviu de sua mesa “Está muito quente”, como era uma voz grave, ele entrou na sala e alterou a regulagem do aparelho do rapaz e voltou para a sua mesa. Mais uns três minutos a voz insistiu dessa vez com mais ênfase “tá muito quente moço!”. Balançando a cabeça impaciente, ele retornou à sala e novamente mexeu na regulagem do aparelho do rapaz. Quando ia saindo D. Lúcia não se contendo e já com as costas em brasa gritou com aquele vozeirão soturno, “VOLTA AQUI SEU IDIOTA, QUEM ESTÁ QUEIMANDO SOU EU”.  O técnico deu meia volta foi atende-la se desmanchando em desculpas, embora em pensamentos a recriminasse. "Quem mandou fumar tanto, e ter voz de homem?".  E ainda ouviu do rapaz “desse jeito não vai adiantar nada, o meu está frio”.
Al Primo
Enviado por Al Primo em 30/09/2019
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