A casa das mulheres da esquina...

Elas tinham um cheiro diferente, talvez um perfume mais forte, eram muito bonitas e vestiam-se de um jeito exageradamente estranho para a compreensão de uma menina tímida e recatada que observava, ouvia, mas não falava com ninguém. Simplesmente quando passava por ali com sua bicicleta, era requisitada para fazer compras no armazém e entregar por cima das cercas altas que cercavam a casa das mulheres.

O comportamento delas era diferente que das outras mulheres que ela conhecia. A casa em que moravam era toda rodeada de tábuas largas e altas, com os portões cheios de cadeados, as janelas durante o dia estavam quase sempre fechadas e não se ouvia nenhum som... Durante a noite, em frente da casa delas até o final da rua, filas imensas de todos os tipos de carros que permaneciam estacionados durante todas as noites. Aquelas mulheres eram um mistério para as crianças que brincavam e que moravam pelas redondezas.

Eram mulheres que não faziam mal para ninguém, muito pelo contrário: como costumavam dormir durante o dia, queriam silêncio, então, davam uns trocados para as crianças comprarem doces e que fossem brincar bem longe da casa delas.

A menina tímida e quieta era a mais requisitada para fazer as corridas com sua bicicleta. Ela chamava táxi, fazia compras, levava e buscava roupas para lavar nas lavandeiras. Mas, nunca passava do portão. Elas alcançavam por cima. Não permitiam que criança alguma passasse pelo portão da casa. Todos morriam de curiosidade, mas ninguém que fosse adulto tinha acesso para adentrar.

As lavandeiras sabiam o que acontecia na casa da esquina e gostavam muito de trabalhar para elas, em razão de que recebiam gorjetas bem generosas pelo trabalho da lavagem de roupas.  Mas nunca falavam nada na frente das crianças, apenas alguns comentários eram ouvidos e imediatamente mudavam de assunto quando alguém se aproximava.

Numa ocasião, estavam todos brincando pelas redondezas e como de costume, a casa da esquina estava toda fechada. Todos ouviram um estrondo assustador! Muita gritaria, cheiro de fumaça e todos paralisaram. Ninguém sabia o que fazer com o que estava acontecendo naquele momento.

Houve uma batida violenta entre dois caminhões, bem naquela esquina. Os caminhões incendiaram e os motoristas estavam presos dentro, sem poder sair, desmaiados e feridos.

Na ocasião, não havia telefone ou carros disponíveis para chamar socorro.

Foi então que numa disparada, aqueles portões fechados foram abertos rapidamente e as mulheres que certamente ouviram o estrondo, saíram todas correndo com cobertores nas mãos e foram socorrer os acidentados. Não sei como tiveram forças para tirar eles das ferragens e do fogo. Eram homens grandes e pesados.

Elas se ajudavam apagando o fogo com cobertores e enrolando eles com outros, conseguiram tirá-los e levá-los para mais longe, fazendo logo em seguida os primeiros socorros e mais tarde foram levados para hospital.

Conforme todos ficaram sabendo no decorrer dos acontecimentos, se não fosse a atitude das mulheres da casa da esquina, eles teriam morrido queimados.

Independente das circunstâncias em que elas levavam suas vidas,  mulheres fortes e generosas...




Texto e imagem: Miriam Carmignan