Conto das terças-feiras – A perereca ardida

Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 20 de agosto de 2019

Nenê, como era conhecido o Adalberto, morava na Vila dos Remédios, Rua Verde, casa 12, em uma cidade do interior do Ceará. Aos 23 anos encantava as garotas da localidade onde vivia, dado o seu porte atlético, sua vasta cabeleira sempre bem penteada, tipo James Dean, ator norte-americano que morreu em 1955, com 24 anos de idade, em desastre de carro, na Califórnia.

Diziam as más línguas da cidade, já naquela época, 1956, que não havia moça que ele não tivesse dobrado, isto é, pegado. Era o terror das famílias, não respeitava ninguém, solteira, casada, bonita, feia, jovem, coroa e mais que viessem. A fama era tanta que foi obrigado a se mandar para a cidade vizinha, onde não era conhecido dos pais e maridos.

Em suas rondas pela praça local, conheceu Mariana, moça bonita, filha de pai e mãe rigorosos quanto ao comportamento moral de sua prole. A jovem, inexperiente, caiu na lábia do mocinho recém-chegado, homem bonito, coisa difícil de se ver pela redondeza. Os encontros eram às escondidas, medo do pai e da mãe. Três meses depois Alberto casava-se, à força, sob mira de espingarda, tendo que aceitar às regras da nova família, eles haviam tomado ciência da fama de mulherengo do Nenê:

— Nada de chifre na minha filha! - advertiu o pai da moça.

A moça, por sua vez, sentindo-se protegida pela família também apresentou as suas determinações:

— Eu não quero você nem olhando para as moças daqui. Caso contrário, você e ela vão se arrepender pelo resto de suas vidas.

Os três primeiros dias foram de calmaria. Nenê não saíra de casa, procurando ajudar à jovem esposa a colocar ordem na nova morada. Para impressionar, trabalhou duro todo o tempo, recebendo em troca beijinhos e abraços. Por três vezes o sogro os visitou, para saber como as coisas estavam andando. Na última, ele balançou a cabeça demonstrando satisfação.

Por dentro, Nenê estava impaciente. A esposa, com medo que a gravidez não vingasse, fazia jejum de sexo, recomendação de sua amada mãe. Ele precisava de desculpas para uma escapulida. Por várias vezes percebeu que a moça do final da rua olhava para ele com olhar pidão. Era necessário dar um jeito nessa morena que o atazanava. Preciso sair do alcance de Mariana, pensava o Dom Juan sertanejo. Ainda arquitetando seu plano de empreender uma escapadela, a esposa o chama:

— Nenê, preciso que você, vá a casa de Minerva, apanhar uma encomenda.

Ele nem sabia quem era Minerva, mesmo assim aceitou de pronto, embora não gostasse de fazer favor para ninguém, nem mesmo para a esposa. Trocou de roupa, pediu o endereço e saiu o mais rápido que pode. Não procurou ler o endereço direito, só o fazendo quando estava na entrada da rua. Percebeu que o endereço indicava o final da rua onde morava. Um sorriso se fez presente na cara do safado:

— Agora eu vou ficar sabendo onde mora aquela morena que passa todos os dias na porta de minha casa – pensou alto o indivíduo.

Apressou os passos, tendo o cuidado de comparar o número escrito no papel com o número das residências, se é que se podia chamar aquele amontoado de casebres, assim. A rua era extensa, comportava mais de cinquenta casas, no final fazia uma curva para a direita, a casa que ele procurava era a última. Bateu palmas e alguém gritou perguntando quem era. Informada o assunto, ela apareceu sorridente à porta.

— Então você é a Minerva? – perguntou Nenê com ar debochado.

— Sim, entre! – disse a moça com satisfação.

A permanência de Nenê nessa casa foi demasiada. Mariana, cansada de esperar, convidou a irmã para irem até onde deveria estar o esposo. A surpresa foi decepcionante, encontraram os dois na cama, pelados e em lascivas carícias. A esposa, revoltada, ordenou que a irmã fosse até a casa dela. trouxesse um frasco de pimenta, que foi passada nas partes íntimas dos dois, já amarrados pelos pés e mãos na cama da traidora.

O escândalo se espalhou pela cidade, a moça passou a ser chamada de “perereca ardida”. O marido, depois de desamarrado, fugiu nu pela cidade, os moradores, ao tempo em que riam, também vaiavam o homem. Ele nunca mais apareceu naquelas redondezas.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 20/08/2019
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