O MENINO QUE OLHAVA PELA JANELA

Duma inteligência encantadora, ele contava com pouco mais de quatro anos de vida.

Morava ali, com sua família de quatro pessoas, no térreo dum condomínio onde seu pai tinha por ofício cuidar do todo.

Todas as tardes, principalmente nas dos quentes verões, ele desfrutava, sempre a olhar pela janela, daquele borbulhar da água que espocava pelas bordas assim que alguém pulava na piscina.

Nos demais dias observava a presteza e o cuidado com que seu pai cuidava daquele tanque de água.

Sei que se encantava com os mergulhos acrobáticos e, dono duma curiosidade além do seu tempo, perguntava ao seu pai como que as pessoas podiam nadar feito peixinhos por debaixo da água…sem se afogarem.

Sonhava em ser nadador e n’algumas vezes manifestara o seu precoce desejo ao seu pai.

”um dia filho, quem sabe um dia você consiga!”, exclamava seu pai, sempre atento a proporcionar o melhor a sua família.

Certa vez, foi presenteado com a notícia de que viajariam para uma outra cidade onde, depois de muita economia, a família adquirira um título desportivo num clube de campo.

Foi uma festa!

O menino que olhava pela janela, enfim, teria a sua piscina.

O lugar era bem distante daquela sua lente tão pertinho, logo ali, ao alcance da sua visão vitrificada de todos os dias.

Durante a viagem, por várias vezes, perguntava a seu pai, naquela impaciência própria das crianças antenadas no todo: “pai, vai demorar muito pra gente chegar? Quero ver logo a minha piscina!”.

Depois duns bons quilômetros e várias horas de viagem a família, enfim, chegou ao seu destino.

O menino, ainda meio sonolento pelo longo percurso, foi despertado pela incontida felicidade do seu pai: ”acorda filho, olha só, já chegamos na sua piscina!”.

Ainda meio atordoado pela sonolência, o garoto olhou pela janela do automóvel, avistou sua piscina lá no fundo da paisagem e perguntou:

“pai, por que a gente teve que vir tão longe se a gente tem uma piscina embaixo da minha janela ?”

Nota: esse conto, baseado em fatos reais, eu o reconto com a mesma emoção ao ouví-lo em narrativa pela primeira vez.