Diário. 11 de agosto 2019
São 17 horas e 48 minutos. Não sei precisar os segundos. Não sou minucioso.
O dia amanheceu como todos os outros. Sob o cantar do galo, o romper da aurola e a brisa fria e suave no rosto das folhas úmidas pelo orvalho noturno.
Parece que a brisa quer, ainda mais, emudecer as folhas.
Os galhos têm uma marca preta por onde escorreu o orvalho.
Fui ao mercado, com meu cunhado, comprar entranhas de cabras. Mas antes, escrevi uma mensagem em homenagem aos pais. Hoje é o dia deles. Postei nas redes sociais em áudio e texto.
Antes de trocar os panos comentei que queria mesmo era andar nu. Que nem os animais. Mas, Adão prevaricou. Meu pai acudiu: não foi Adão. Foi Eva. Nao disse Eva. Disse a mulher. Pobre infeliz da mulher. O Mundo vai acabar e ela não perde a culpa que Adão e todos os homens lhe deram.
Daí surgiu o sentimento de vingança. Ainda hoje a mulher é pisoteada pelo homem que morre dizendo que a culpa é dela. Eu disse ao meu pai que desde o princípio o homem coloca sua culpa nos outros e todo mundo culpa alguém por ser mal ou por fazer maldade.
No livro Conspiração Franscicana, uma menina de 11 anos é violentada pelo seu tio que é padre. Quando seu pai soube deu-lhe uma surra por ter feito seu tio, que era santo, prevaricar. Como se a culpa da carnificina animal daquele monge fosse dela pelo fato de ser mulher e atrair aquele monstro. Deu vontade de voltar no tempo e esfolar vivos o padre e o pai da criança. Mas meu pai ainda sustentava que a mulher foi a culpada. Para não discutir mais lhe disse que tinha de ser assim mesmo. Deu vontade de lhe mostrar Isaías 45:7 onde diz claramente que Deus quem cria o mal. Presente do indicativo. Mas ele se escandalizaria, pois as religiões têm um poder terrível sobre a mente das pessoas. Elas só pensam e só acreditam no que a igreja reza e interpretam a palavra de Deus conforme suas conveniências.
Finalmente fomos para Horizonte. Meu pai, Celma, esposo e filhos. Passamos umas 4 horas por lá, na casa de minha irmã caçula e almoçamos Carneiro e sarrabulho de porco. Cada um comeu conforme seu gosto.
O sono me inquietava, mas não queria dormir.
Retornamos. O carro era do Ernesto. Nos emprestou. O do meu cunhado não está legal pra viagem.
Na volta, conversei bastante com José Américo e me falou bastante de Soledade. Ela não quis falar comigo. Está apaixonado por Lúcio e vivem se encontrando às escondidas no matagal. Américo me falou do que eles aprontam, mas como todo mundo, só malda dos dois apaixonados. Eu não afirmo o que fazem às escondidas. Fosse comigo, Américo, disse eu. Saberia o que acontecia entre eu e Soledade. Não a quero julgar nem condenar por isso. Mas ouvindo Américo desejo ser Lúcio.
Colocamos diesel na ida e comprei 3 quilos de entranhas de bode pra comer e para dar a uns amigos meus. Entranhas temperadas e costuradas no bucho do animal.
Na rodoviária falei com ninguém. A não ser com a moça do sorvete. Pedi um milk sheik. Meio litro e fui saborear.
O ônibus atrasou e peguei o horario das 15 às 17 e 25. O meu horário das 16 horas não sei que horas vai chegar. Minha previsão de chegar era 20 horas, agora é pras 22.
Estou mesmo cansado e devo dormir a viagem toda.
Não esqueça, diário, de rir de si mesmo. Quem rir de si mesmo tem uma grande capacidade de driblar as dificuldades.
Boa noite.