V E S T I D O - B R A N C O

Desci quase nove andares usando a velha escadaria do hotel e mesmo assim fui incapaz de intercepta-la na portaria, novamente ninguém a viu passar, ela simplesmente sumiu, no seu lugar surgiram olhares curiosos e risos abafados.

Essa não é a primeira vez que a perco de vista. Vejo-a pôr toda semana... em casa... na rua... na praia... dentro dos meus sonhos e, é claro, no maldito hotel.

Só agora, enquanto subo novamente as escadas, é que percebo que ainda estou de pijamas… mas não irei perder tempo trocando de roupa, vou até o terraço.

Já estou banhado em suor quando abro a porta que dá para a solidão daquele hotel. Acendo um de meus velhos cigarros e penso naquela imagem mais uma vez.

Sua pele negra e seu olhar penetrante contrastando apenas com seu vestido branco quase reluzente e seus pés desnudos. Não consigo tirá-la da cabeça, não sei quem, ou o quê, ela é, nem ao menos sei se ela realmente existe, ou se é apenas frutos da minha recém descoberta loucura.

Desde de que minha mulher morreu e meus filhos casaram e foram viver longe, que recebo as visitas desta mulher de branco. Por várias vezes quase a pego, mas ela sempre desaparece, ninguém mais a ver, mas eu a vejo... todas as semanas.

Hoje me apareceu enquanto rolava a chave sobre o trinco da porta. Não havia ninguém no corredor do lado de fora, e como mágica lá estava ela, pairando encantadoramente dentro do elevador... então corri a seu encontro, corri o máximo que pude, corri feito um louco, mais um surto inútil que quase me para o coração. Dizem que mulheres assim só aparecem para velhos entregues ao abandono, ou talvez ela esteja apenas esperando o momento certo para me buscar... sim, talvez esteja na hora de um velho finalmente tê-la nos braços. Caminho até o parapeito, escalo-o com dificuldades, e quando olho para baixo no meio daquela rua vazia enxergo nitidamente um vestido branco.