Diário. 05/08/2019
05 de agosto de 2019.
Acordei com vontade de louvar, diário. Peguei meu violão e cantei o Hino Sossegai. Este hino acalma minh'alma, e roguei a Deus para me livrar.
Hoje foi o primeiro dia de aula, propriamente dito.
Fiquei na escola só pela manhã, pois tinha uma consulta para solicitar alguns exames rotineiros. O exame comprometeu minha tarde e não pude ir pra escola, meu segundo lar.
Ali dou e recebo abraços de colegas e de crianças. Temos uma relação harmoniosa e procuro amar as pessoas, pois diz o apóstolo que é a única coisa que devo dever às pessoas. O amor.
Enquanto esperava a consulta, visitei A Bagaceira e me deparei com Soledade numa festa.
Soledade estava longe do sertão. Estava no brejo. Um tipo de região piauiense. Na festa, os brejeiros tinham os olhos nela, pois eles adoravam as sertanejas. As outras raparigas estavam com raiva dela. Que foi, diário? Porque chamei as meninas de rapariga? Na época de Soledade era assim que chamavam as moças, diário, sabia não? Pensei que tivesse mais cultura. Não diário, não estou esculhambando as meninas. É o termo da época. Rapariga.
Soledade estava que nem uma cadela. Escolhendo o macho que com quem queria ficar porque, ela podia escolher. Tinha um rebanho aos seus pés. Podia, sim, botar banca. Naquela festa era a toda poderosa. Confesso que fiquei com ciúmes de Soledade, mas ela me disse que eu não me atrevesse se meter na vida dela. Recuei, diário. Quando uma fera rosna, melhor mesmo se acovardar.
Num dado momento um rapaz chamou uma moça pra dançar e a chamou de dama. Foi uma confusão, puxaram faca e tudo pro pobre rapaz e até a polícia, chegou na hora, entrou na confusão. Deram um tapa no candeeiro de gás e ficou tudo no escuro. Aí ninguém sabia com quem estava brigando e no saldo da briga não morreu ninguém, mas tinha muita gente esfaqueada e esbofeteada. É, diário, naquele tempo era assim. Luiz Gonzaga cantou uma música dizendo que apagaram o candeeiro e derramaram o gás e nesse coco não vadeio mais. Porque a luz era mesmo de candeeiro.
A confusão começou mesmo pelo termo "dama". Pra eles lá, dama era uma mulher de todo mundo. Qualquer um pegava e rapariga era moça distinta. Por isso o rapaz quase morreu, pois ofendeu, além da moça, toda sua família. Hoje a gente pensa diferente. Dama é mesmo um mulher decente e de respeito e rapariga é isso mesmo que voc~e está pensando.
Este caso, diário, me remota a um fato inusitado aqui no Brasil, não sei por onde.
Um português veio morara aqui e conseguiu um emprego de professor e na sua primeira aula, naquela escola, estava ele a explicar o conteúdo e uma menina estava muito a conversar a tal ponto que precisou a intervenção do professor. O mesmo falou: Cala a boca, rapariga! A menina engoliu a língua literalmente e no restante da aula não falou mais nada. No tempo que ninguém respondia ao professor, dada a expressão, todo mundo emudeceu.
No dia seguinte, ao chegar na escola, a superintendente o esperava na porta de entrada e o convidou à sala do diretor. Ao chegar lá estavam na sala do diretor todos os pais dos alunos porque todo mundo, diário, ficou sabendo que o professor chamou a aluna de rapariga.
O diretor pediu ao professor para se explicar porque a chamou de rapariga. Ele, coitado, ficou assustado. Eu também ficaria. Então disse que para ele o termo rapariga significa o feminino de rapaz. Como não sabia ainda o nome da menina a chamou de rapariga. Perguntou qual era o problema. Foi explicado que rapariga aqui no Brasil é puta. Ele ficou mais aperreado ainda. Porém, prometeu ter mais cuidado.
Me lembrei, diário de um mico que também passei em Uruburetama.
Pra mais de 20 anos, ainda solteiro, estava eu na igreja Adventista e me convidaram para ser o orador do dia. No meu discurso, não qual o assunto, falei em loiro fogoió. Loiro fogoió para mim é um loiro ou uma loiro muito loiros mesmos. Loiros além da conta.
Em casa, na minha tia, fiquei sabendo que fogoió, em Uruburetama, tem um significado não muito amistoso. Fogoió é um dos apelidos do anus. Aí, diário, quem quase morreu de infarto foi eu. Imagina eu ter falado isso no meio do discurso canônico, no meio de todas as pessoas da igreja e de alguns simpatizantes. Também fiquei sabendo de uma mega empresária na igreja e o orador do dia falou até em cu. Minha nossa senhora das canelas de pau! Que grande mico.
Pois é, diário, as palavras têm seus significados de região pra região. No Brasil os homens vestem cueca, em Portugal quem veste cueca são as mulheres. Se pedir umas 3 cuecas na loja vai receber 3 calcinhas. Cuidado, diário, quando fores em Portugal.
Chegou a vez da consulta e conversamos mais de meia hora o médico e eu. Me despedi do médico, de Soledade e do resto do hospital.
Gravei uma música ao violão, "Meu querido meu velho, meu amigo" e mandei, via whatsapp para meu pai, em Fortaleza, que estava de aniversário. À noite conversamos e o parabenizei.
Ao deitar só agradeci a Deus por hoje.
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