UMA LIÇÃO DE VIDA.

Sentada na calçada Gina, uma menina de 13 anos, espera a mãe chamar para o jantar. Não participa das brincadeiras com as colegas pois as acha muito cansativas. Prefere ler um romance bem cheio de erotismo e sonhar com o cara certo que encontrará num futuro bem próximo.

A mãe, sozinha faz o jantar e lavou a louça do almoço, que ainda não lavara, pois tivera que ir a escola resolver mais uma pequena ocorrência. Chamar a filha pra ajudá-la? Estava fora de cogitação. Ha muito desistira de envolver a dondoca nas tarefas domésticas. Nunca participava delas e tão pouco se interessava em dar um palpite positivo sequer. Quando dizia algo era pra criticar destrutivamente. Dizia sempre que tarefas domésticas não eram pra ela. Não nascera pra fazer essas coisas. Casaria com um ricaço e teria empregados para resolverem tudo pra ela. A mãe que se virasse sem ela. Não pedira pra nascer. Etc. E bla bla blá.

Acordou destes pensamentos absurdos quando ouviu um pio agudo de um pássaro que, assustado por um gato, voou e ao pousar num galho de roseira, teve a patinha fisgada por um espinho. O pequeno era um tico-tico. Gostava de observar aquele pássaro e o estava acompanhando ha alguns dias. Estava com um ninho, até bonitinho, mas o maluco do passarinho o fez na laje, em cima da casa dela. Estava cercando o ninho de cuidados e o via levar ciscos pra aperfeiçoar o ninho.

O pobre pássaro com o pezinho fisgado guinchava muito e ela parou a leitura pra socorrê-lo. Ao levantar-se não olhou para o chão. Olhava fixamente para o galho onde o bichinho estava assustado, com medo dela, que se aproximava. Porém, antes que tocasse o galho, pisou num galho da roseira seco que alguém quebrara e o deixara ali displicentemente.

A dor violenta que sentiu sob seus pés delicados a fizeram cambalear e cair. No momento seus pés estavam descalços, visto que a menina costumava sentar-se sobre os calçados quando sentava no canteiro para ler. Ao cair bateu com a cabeça no meio fio que cercava o canteiro e perdeu a consciência.

O tico tico chamou os pássaros pra socorrê-la pois achava que ela era amiga mas os outros pássaros se recusaram dizendo que ela era imprestável até para os de sua raça e que não queriam ninguém assim entre eles. Que ela nunca soubesse que eles se comunicavam entre si.

Ali no chão, desmaiada, Gina experimentou sensações distintas que iam desde a mais triste das depressões até a dor mais intensa. Vaga-lumes percorriam seus olhos e ela sentia que a luz lhe fugia e reaparecia em segundos. Ouvia claramente os pássaros discutindo entre si e não acreditava mas era real. Queria gritar pela mãe mas não conseguia. A vos não lhe saia da garganta. Os pássaros resolveram levar gina pra seu reino e la o grande chefe decidiria se a ajudariam ou não.

Vieram muitos pássaros de todas as espécies e juntos levaram a menina pra longe. Gina teve muito medo de cair mas isto não aconteceu. Ao chegarem a uma grande cachoeira, a atravessaram e chegaram ao outro lado incrivelmente secos. Aterrissaram o corpo da menina e logo chegaram vários outros pássaros a tomarem satisfações dos que a trouxeram.

Os humanos nunca souberam de sua existência enquanto comunidade inteligente. Deviam levar a humana dali. Mas os outros não obedeceram e o grande maioral foi chamado. Logo uma coruja gigante apareceu voando sem pressa. Pousou delicadamente e exigiu explicações da passarada sobre a presença de uma humana ali.

- Não sabem que os humanos já exterminaram várias espécies de pássaros? O que significa isso? Ninguém vai me responder?

-Senhor, perdoe me. Fui responsável por isso. Como pode ver pelas gotinhas de sangue, minha patinha se prendeu num espinho e essa humana ia me socorrer, quando pisou em outro espinho e caiu desmaiada.

- Como sabe que ela ia te socorrer?

- Ela anda fazendo algumas coisas pra proteger meu ninho. Já espantou o grande gato, da lage onde fiz meu ninho. Algumas vezes e pões água fresca bem próximo pra eu beber. Nunca tocou em mim ou tentou tocar.

Eu também a vi destruir uma gaiola que alguém colocou na praça com um alçapão para pegar pássaros bobos, gulosos e distraídos. Ela fica horas sentada num canteiro ouvindo a cantoria dos nossos irmãos livres.

-Que quer que façamos com ela? Porque a trouxe pra cá?

-Sei que tem ervas que usa em circunstâncias parecidas pra curar nossos líderes em caso de necessidade. Nós precisamos de humanos como essa humana filhote. Se já nos protege agora, poderá significar uma proteção maior quando se tornar adulta. Quem sabe não terá filhotes protetores também? É Fêmea. Dependemos de humanos assim pra não entrarmos em extinção.

Gina ouvia tudo isso incrédula. Estava imóvel pois não conseguia sentir seu corpo. Teve medo de ter quebrado a coluna. Ou ter ficado sem uma parte importante do cérebro e nunca mais poder andar.

Os pássaros terminaram a reunião e a grande coruja decidiu que era mesmo importante cuidar de humanos que se importavam com os pássaros. Ordenou que eles a levassem pra uma gruta em que seria tratada.

Ao chegarem na tal gruta, Gina quase parou de respirar. O cheiro dali era nauseabundo. Gina foi colocada bem devagar sobre uma rocha. A sua volta havia símbolos escritos nas paredes. Eram parecidos com hieroglifos. Provavelmente seriam.

A grande coruja trouxe um suco preto em uma minúscula garrafinha, que parecia um favo de mel, e depositou na boca da menina. Ali ela ficou alguns dias. Toda hora um pássaro trazia algo e depositava em sua boca. Espremia com seus pezinhos e o suco descia pela boca dela. Despejou também sobre seus pulsos algo gelado. Aos poucos ela conseguiu começar a comer, embora não conseguisse mover os braços. E as frutas foram aumentando de tamanho.

Ao final da semana ela já conseguiu sentar sobre a laje. E os pássaros já ficaram com medo dela e deixavam as frutas menos próximo dela. E no outro dia deixaram bem mais longe.

E assim ela começou a andar e embora não conseguisse sair dali, pois era muito grande, pra passar por onde os pássaros entravam e saiam.

-Na gruta ao lado a grande coruja discutia com um pardal negligente que deixara o filhote atacar a horta de humanos e destruir.

-Assim breve a raça de vocês será destruída. Quem quer pássaros que destroem coisas alheias?

- Senhor, com sua licença tenho um assunto a tratar da maior importância! - disse um pica pau recém chegado.

-Saia Pícolo! - e assim que o outro se retirou, disse ao outro: sim pode falar!

- Senhor chegou a hora de devolver a humana ao seu habitat.

- Que assim seja doutor. Hoje a noite ela volta pro lar.

A noite, Gina dormiu com a barriga cheia de frutinhas que foram colocadas a sua disposição. Sonhava com um belo hambúrguer e não via a hora de sair dali.

Gina ficara encantada com o trabalho em equipe dos pássaros. Tão pequenos mas foram eficientes na tarefa de alimentá-la. Vendo o tamanho dos pássaros e o quanto trabalharam para satisfaze-la, percebeu que a pobre da sua mãe era muito sofrida e a culpa era toda sua. Como podia ser tão folgada?

Ali, por muitas vezes vira pássaros negligentes serem punidos por deixarem de trazer a sua porção de ração para ela. Eram uma equipe, e cada um tinha que dar conta de sua parte. Assim percebia porque tinha que ajudar a mãe. Agora entendia porque ela andava com o semblante tão cansado.

-Pobre mamãe! Quando voltar pra casa juro que vou compensá-la. Ela é uma guerreira e trabalha tanto desde que o meu pai a deixou. Lavar, passar e entregar as roupas dos outros e ainda cuidar de mim e da casa sozinha. Que injusta tenho sido!

Acordou com o sol a cegá-la. A mãe estava a seu lado. Estava, em um hospital. Sorriu e pegou na mão da mãe que dormia sentada.

- Mãe?

-Filha! Que bom que acordou! Como está você? Como se sente?

-Bem. Você me perdoa mãe? Como cheguei aqui? Foram eles né?

- Eles quem filha? Eu a encontrei caída na calçada quando fui chamar pro jantar. Chamei a ambulância e a trouxemos pra cá. Você teve uma pancada muito forte na cabeça. O que aconteceu?

- Nada mãe. Pisei num espinho e me desequilibrei. Gina percebeu que devia ter sido só um sonho. Talvez Deus a tenha feito sonhar aquilo pra acordá-la pra vida.

-Oh! Filha, que susto você me deu. Não acordava mais. Achei que a tinha perdido pra sempre!

- Como pode me amar assim mesmo eu sendo tão egoísta mamãe?

_As mães simplesmente amam, mesmo sem esperar nada em troca. Você é um pedaço de mim. Jamais deixará de ser.

- Juro que vou te amar mais e cuidar de você mamãe!

Mãe e filha se abraçaram e sabiam que muita coisa iria mudar dali em diante. A mãe não entendeu o que aconteceu a menina mas agradeceria a Deus por este acidente até o fim de seus dias. A natureza também agradeceria e com ela todos nós, pois Gina já cuidava de alguns animais antes, depois desse sonho cuidou muito mais dali em diante. E cuidar da natureza traz resultados positivos pro futuro deste planeta.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 06/08/2019
Reeditado em 06/08/2019
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