Canção de Ninar
Não durmo bem. Aliás, nem durmo.
Há noites fico acordado, ouvindo o barulho da rua se esvair. À dias, permaneço deitado enquanto o sol colore minhas paredes e meu teto com um amarelo-vivo, furioso.
Sim, sinto sono. Sim, sinto tédio. Virando de um lado para o outro, rolando na cama, procurando a posição adequada. Sinto muito sono. Por que diabos ainda continuo acordado?
Meus olhos não ficam fechados nem por um segundo. Parece que vão começar a sangrar à qualquer momento. Fico paralisado na cama, analisando o contorno das coisas no escuro.
O tempo passa rápido, mas mesmo assim, não deixo de tentar. Olho para o relógio, gritando as horas com seu brilho vermelho-surdo. Madrugada adentro sinto fome, sede, mas não levanto da cama. Fico lá, como um idiota, virando, rolando, chutando as cobertas, colocando-as de volta.
Com a boca seca, procuro minha própria saliva numa busca inútil pela hidratação não-encontrada.
O relógio continua lá, avisando que é hora de dormir e parece rir da minha cara.
Por fim deliro, devaneio. Cores e formas da janela para dentro. Por que não durmo?
Passo dos limites da sanidade. Enlouqueço.