Preciso te encontrar

Depois do teu sumiço, não consigo pensar em mais nada: preciso te encontrar. Sinto isso em meu íntimo, é mais que uma obrigação, um dever, uma missão. Tantas foram as trapalhadas em que me envolvi por ti, e ainda assim continuo a te procurar.

No começo, a tua chegada foi tão linda, suave, sorridente, tranquila. Contando histórias, falando de ti mesmo. Eu dei fé, como uma garotinha inocente, acreditei em ti. Aliás, todo mundo acreditou, ou pelo menos, todo mundo que ficou sabendo da tua declaração.

Confesso que eu mesma fiz um belo trabalho de divulgação. No mesmo dia que ouvi todas aquelas coisas de ti, já dei um jeito de publicar na internet, emocionada. Que o mundo saiba! Fiquei tão feliz! Era minha primeira vez. Quis que durasse para sempre! Que fosse um caso exemplar.

E logo marcamos de nos encontrar de novo. Alguém mandado por ti disse que tudo certo, que eu podia te esperar na quarta-feira. Eu passei a semana me preparando, ensaiando reações, testando roupas, penteados, maquiagens, tudo para o grande momento de encontrar, de te rever.

Umas colegas do trabalho me avisaram, disseram que não me fiasse, que são todos iguais, que marcam conosco, mas na hora não aparecem e deixam a gente plantada esperando. É claro que nem considerei toda essa conversa, coisa de invejosas, agourando a felicidade alheia. Aconteceu com elas, mas não iria acontecer comigo, conosco, com o nosso caso.

Mas a tua ausência, a tua não-aparição, me surpreendeu. Eu esperei e esperei. A cada minuto, roía mais as unhas. Caminhava indo e voltando naquela sala, ao mesmo tempo em que o meu pensamento também ia e voltava. Será que estaria a caminho, será que não viria? Será que ficou preso no trânsito, será que desistiu? Será que está quase chegando, será que simplesmente fugiu...

As pessoas em volta fingiam interesse nos seus próprios negócios, mas eu sabia que olhavam para mim, umas rindo da minha desgraça, outras com pena do teu (mau) jeito comigo. Não faltou quem dissesse: não esquenta, esquece isso, parte para outra, a fila anda.

Mas eu não desistiria. Procurei os teus contatos, liguei, mandei mensagem de texto, postei na tua rede social, tudo! Até pedi para o chefe e saí do trabalho para ir até o teu endereço. Sim, até isso. Nada iria me deter nessa missão. Fui lá, parei diante da tua casa, toquei a campainha. Ninguém atendeu. Toquei de novo e de novo, e esperei. As vizinhas começaram a colocar os seus narizes para fora das janelas. Várias vizinhas. Todo mundo olhando. E nada.

No outro dia, tentei de novo. Escolhi outro horário e fui até a tua casa mais uma vez. Campainha, silêncio, vizinhos. Mais mensagens, ligações, posts, sem resposta. Bati na porta, de novo e de novo, e nada. Mais vizinhos, a situação toda ficando constrangedora. O desespero começou a me oprimir. Tinha sido uma fuga, uma ocultação? Tu ainda tá vivo?

Então tomei uma atitude: pedi para a vizinha mais próxima te avisar. Eu voltaria ali no outro dia, e se não te encontrasse de novo, eu não iria querer mais saber. E saí pisando firme, que a coisa já tinha passado dos limites. Os teus credores que prosseguissem o processo à tua revelia. Ora, não ganho pra isso, sou apenas uma Oficial de Justiça.

03/08/2019