JOÃO MULATO NO FORTAL

João Mulato desde menino ficou órfã e foi criado pelo avô Pedro Andrade. Pedro Andrade era um eremita, que morava sozinho no pé da serra , distante 12 léguas da primeira casa, além da estrada péssima, pois só se chegava lá à pé ou de cavalo, coisa essa que deixava os dois bem isolados do mundo. João Mulato teve pouco conhecimento do mundo, ia muito pouco a cidade de Mombaça, pra dizer a verdade só ia lá quando Pedro Andrade não podia ir, assim contava-se nos dedos as vezes que João tinha ido até uma cidade e tinha tido contacto com outras pessoas, incluindo ai moças, coisa que ele não via e quando via não falava. Ele sonhava com moças, namorando e beijando, por vezes acordava na fria noite beijando o lençol, como se fossem donzelas. João ficara um rapaz forte e bonito, tinha os olhos azuis do velho Pedro, como trabalhava duro na lavoura e na lida com gado, ficou com um corpo atlético, além da altura bem avantajada. Isso tudo se passa nos dias de hoje, onde o mundo corre na velicidade da Internet, e as coisa acontece e mudam num piscar de olhos. Por esses dias, Pedro tinha vendido uma carrada de estacas de sabiá para um fazendeiro de Fortaleza, e como estava adoentado, com o mocotó inchado e sem poder andar, mandou o seu neto fazer a viagem até Fortaleza, no caminhão de entrega. Pegar o dinheiro com o fazendeiro, e trazer de volta para casa. Isso foi numa quinta-feira, saíram de lá bem cedinho, tinham autorização do Ibama, autorização essa conseguida pelo rico fazendeiro de Fortaleza. Chegaram em Fortaleza 16 horas, e ficaram parados no posto São Cristóvão na entrada da cidade, iam dormir no caminhão e sexta bem cedo entregar a carga de estacas. João levava mil reais que seu avô tinha dado pra ele por segurança, uma muda de roupa, uma faca e uma imagem de padre Cícero, seu santo protetor. Quanto chegaram no posto, João foi ao banheiro, tomou um banho pago, se arrumou e foi até a churrascaria do posto comer e beber algo. Quando chegou lá, encontrou por acasos, três rapazes que vinham de Natal para Fortaleza, participar de uma festa, essa festa era um carnaval fora de época, chamada Fortal. Os rapazes fizeram amizade com João, e contaram que vieram de Natal so pra essa festa, que era uma grande festa, com trio elétrico, e muita gente. Muita gente era a palavra dos sonhos de João, era tudo que ele não via e tudo que ele queria, muita gente, pois muita gente queria dizer também muitas mulheres, muitas moças bonitas, muitos beijos e abraços, talvez até uma namorada, Muita vida. Quando já estavam perto de saírem para o Fortal, um dos jovens perguntou se o João não queria ir com eles, pois eles tinham um ingresso sobrando ( abada), e dariam de graça para o João. João era um matuto, não tinha estudo, mas não era bobô, muito pelo contrário, seu avô sempre contava para ele as coisas do mundo, e tinha consciência da distância dele para aqueles jovens. Mas os jovens falaram pra ele que se ele não gostasse da festa, ele pegava um táxi e voltava pro posto. Ele falou com o motorista do caminhão se podia ir, que qualquer coisa vinha embora, e amanha com certeza estaria ali antes do nascer do sol, o motorista falou pra ele que ele fosse, que tivesse muito cuidado, mas que seria bom pra ele, pois poderia até arranjar uma namorada, que fosse sim. João foi com os amigos, ficou esquisito vestido naquele abada todo colorido de rosa, mas foi assim mesmo. Lá fora no Fortal o mundo era imenso, gente pra todo lado na bilheteria, gente vendendo cervejas, policiais, taxistas, homens e mulheres. Era o paraíso. Eles adentraram no bloco, um trio elétrico na frente, a música começou a tocar muito alto, as pessoas pulavam abraçadas, mas João não via mulheres, ao lado não tinha mulheres, eram só homens, abraçados uns com os outro, cantando e bebendo. Ele já tinha conhecimento do cheiro da maconha, e era o que circulava no ar, o cheiro de maconha e de éter. Era horrível. Ele pensou, bem deve ser o local dos homens, mas a frente deve ser o local das mulheres, ai vão se encontrar, e a coisa vai melhorar. Ai os caras começaram a gritar_ Há como é bom ser viado! Há como é bom ser viado! Ele começou a desconfiar da situação, e as coisas pioraram quando todos começaram a se beijar na boca, ai ele ficou gato escaldado, um rapaz tentou atar um beijo nele, ele deu um tapa no cara que caiu no chão. Os seguranças pegaram o João e tiraram do bloco, lá fora ele foi levado pra uma delegacia móvel, a delegada quis saber do acontecimento, João contou tudo que se passou com ele, a delegada ouvindo a história sorriu, perguntou se ele tinha dinheiro para voltar pro caminhão, falou que ali não era bom pra ele não, chamou um uber e mandou João de volta. Pela manhã, o motorista perguntou pro João_ e ai João, como foi a festa?

JOÃO MULATO NO FORTAL

FRED COELHO 2019

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 28/07/2019
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