A DOR DA SAUDADE

Vejo o final da tarde chegando e, dos meus olhos marejados pela paisagem do lusco-fusco que se aproxima, imperceptíveis cachoeiras subterrâneas emergem para dar sentido à concupiscência sendo rasgada pela indelicada e atrevida imagem de uma nódoa que me suja as lentes do que outrora fora belo.

Deste rio, onde suas águas se apresentam carregadas de sentimentos, elas acabam por se tornarem verdadeiros dilúvios de espanto, surpresa e dor. A incredulidade toma conta da paisagem e angustia quem vê o seu paraíso sendo invadido pelo tsunami da falta de amizade, de lealdade e de respeito.

Ali, no início do crepúsculo, os pensamentos percorrem distâncias de milhares de anos-luz. O filme que se descortina viaja rapidamente e passa cenas que vão atapetando de flores, desde o seu início até quase o seu final, os caminhos dessa jornada de sonhos reais e fantasias já começadas. O tema é um só: o amor. Ele não mede esforços e realiza, em sua trajetória, de lá para cá, lindas artes de vontades, desejos e paixão. Seus coadjuvantes, nesta fita, são aqueles que tornam os ingredientes de uma história de amor cada vez mais sublime: o companheirismo, a compreensão e a cumplicidade.

E quase no seu final, as cenas mais marcantes, aquelas em que, normalmente, os atores se fundem num amor eterno, o choque das cores entre o dia e a noite se faz presente e destrói o tom verde da esperança, da liberdade e deixando cair, por terra, a saúde e a vitalidade de quem se sente indefeso para recomeçar, reconstruir-se.

Nada mais se parece como antes. O azul do céu se reveste do manto preto da noite e os personagens se despedem, um para cada lado, gemendo suas dores. O palco começa a descer sua longa e pesada cortina, tentando encobrir sua decepção e prometendo, num próximo espetáculo, tentar reconquistar aqueles olhos já castigados pelas lágrimas. Do lado da plateia, as cadeiras são afastadas para darem passagem aos inocentes telespectadores que nada fizeram, mas que não conseguem explicar por que aquele filme não teve um final feliz.

Assim, o dia termina como numa tragédia grega. Os olhos que a tudo assistem não se conformam com o último ato. Para eles, o enredo não precisaria de figurantes do tipo fraqueza, enganação e ingratidão.

Enfim, fecham-se as cortinas...
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 26/07/2019
Código do texto: T6705359
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