ROSE
(Ct/07)


     Na cozinha, as poucas vezes que nos víamos, contava-me histórias soltas da favela e de como faziam desaparecer qualquer indivíduo indesejável, por qualquer motivo fosse, onde a lei é a lei da favela. - “Eles é que manda”. Dizia-me: - O Caveirão é o cão e lá dentro o precipício é certo e o preso tem de sofrer certamente o pão que o diabo amassou e incerto era voltar para casa. – O meu Nênzinho? - Dizia Rose, sobre o filho ainda menor - Ah! Ele já sabe de tudo o que tô falando pra Senhora. Digo a ele como tem de agir num caso de ver o Caveirão, ouvir tiro por lá e/ou gente desconhecida que se faz passar por gente boa, mas nos finarmente trata-se de vagabundos perdófilos. Tranca as janela e vai jogar vídeo game que eu dei pro Natal. A gente temos experiência dessas coisa e até proíbo ele de visitar o avô que mora ao lado, pra não sofrer desaforo ou traição de algum bandido que anda por lá. Por que a gente num sabe mais quando se pode sair de casa e Nên é muito ruero, sabe? A Senhora vê o caso da menina Isabela jogada pela janela tem duas semana? O pai é um monstro fingido e a madrasta então? Por causa de quê ela não fez isso com a filha dela? Essa cachorra, que Deus me perdoe, mas, ela vai ver e ter o que merece. A justiça de Deus é forte e se Ele quiser ficarão pro resto da vida na cadeia e Deus há de querer, Amém. – E assim, o tempo mínimo que eu estava com Rose, para ver cardápio ou para revisar qualquer outra coisa em assuntos domésticos, tinha que ouvir primeiramente o desabafo aprisionado dela, caso contrário nada eu resolveria. Era um furacão. Na pouca convivência com Rose (seis meses) aprendi que nem tudo deve ser dito. O fato é que Rose nunca necessitava de lista para fazer compras ao supermercado, pois dizia que guardava tudo na cabeça e eu me indagava o porquê da repulsa contra anotações ou listas. Apanhava todas as manhãs o jornal e entregava ao patrão, imediatamente, intacto e sem nenhum comentário. O que ela adorava mesmo era assistir jornal pela televisão, onde comentários, em monólogo, podiam ser ouvidos da minha sala de estudos. (.....) - Cadê a lista do mercado, Rô? – E ela sempre respondia. - Eu não gosto de lista pra supermercado não dona. Vou num pé e volto noutro.
Por onde andará Rose?
(Rio de Janeiro, 25 de abril de 2009-04-25)




 
edidanesi
Enviado por edidanesi em 26/07/2019
Reeditado em 26/07/2019
Código do texto: T6704795
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