É dia

É dia.

Queria estar dormindo. O frio é tentador, me empurra ao cobertor, mas sono mesmo já passou.

Os galos de Pacatuba não são diferentes dos de Amontada. Estão amiudando o canto. Queria mesmo era dormir ouvindo essa cantoria dos galos. Mas, acordei pensando nela. Na Soledade. Não sei se é uma mulata arretada, ou uma loira cara de anjo ou mesmo uma mistura disso tudo. Da Índia com a europeia. Cabelos lisos, pretos e pele branca. Qualquer que tenha sido a cor de Soledade isso me encanta.

O Américo não detalha sua cor. Apenas fala nela como mais uma vítima da seca na Paraíba. Castigo dos nordestinos.

Também lembro da farinhada e duma boneca que conheci, por lá, raspando mandioca. Talvez Soledade parecesse com ela.

O interessante na leitura é a gente imaginar as pessoas e os lugares. Os detalhes descritos nos desenham a ideia do espaço e das coisas. Se a gente ler sem esta percepção não consegue gostar da leitura. O prazer mesmo está em adentrar na história e viver aquele texto, aqueles época.

Ontem escrevi sobre meu dia e coloquei Soledade no relato. Uma leitora minha indagou quem é Soledade. Pensava que fosse alguém real. Mas, pode ser e pode não ser. Quem vai adivinhar os pensamentos de um poeta ou de um apaixonado?

Também somos pobres de leitura e não lemos a literatura brasileira. Logicamente, falar de Senhora, soará muito estranho para quem não leu Senhora. Também tem a Manuela. Julieta é mais conhecida, mas os romances estão cheios de mulheres que apaixonaram corações.

Amor de perdição é um romance emocionante. Um amor não realizado. A queda de um anjo é fantástico, só lendo pra saber. Garibaldi e Manuela termina em tragédia. Mas Soledade inda não vi seu fim.

Os passarinhos estão cantando enquanto ressona o meu amor. Alvorada é chegada e o frio beija minha face rosada. Hoje estou bem. Meu olho amanheceu restaurado e o galo da capina trina lá fora. Suas penas não deixam sentir frio. Por isso canta à brisa da manhã.

Queria levantar, mas sou hóspede e o anfitrião ainda dorme. Preciso esperar que acordem. Por isso queria dormir. (...)

Carlos Jaime

CARLOS JAIME
Enviado por CARLOS JAIME em 22/07/2019
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