HUMANIDADE
Ideia louca.Passeio, turismo naquele domingo no meio de duas semanas numa inútil missão de cooperação naquela ilha inóspita de um arquipélago achado no meio do Oceano.
Foram ao Tarrafal e ela tomou banho na praia.Uma pequena enseada com água transparente e gelada.Um almoço de camarões na esplanada da praia enxameado de mosquitos.
E de regresso o chauffeur local ,um negro simpático e tisnado alvitrou fazer aquela paragem.Algures no litoral antes de regressarem, de novo, à capital pestilenta.
Havia vento e o Colega desvastado e triste com o divórcio recente preferiu ficar no táxi alugado.
Ela escolheu sair e caminhar até ao areal onde uma pequena multidão se encontrava meia imersa na água castanha, homens e mulheres de todas as idades suspensos e hipnotizados com os olhos fixos no horizonte á procura de uma saída.
Ela parou a olhar o quadro.Deveras impressionada.
A humanidade representada ali de pé, com a água meia suja pela cintura numa espera insana, num arremedo teimoso e insistente como que à espera de algum milagre que a libertasse daquele ponto, aquele lugar na ilha sufocante…
Ela era uma mulher madura, talvez esbelta e decerto algo sofisticada que usava lenços de marca, calças impecavelmente engomadas e óculos escuros importados.Mas ela vacilou com uma tontura horrível.Quiz voltar para trás, fugir daquela visão , evadir-se dali mas tropeçou, caiu, o chauffeur veio em seu socorro e o colega esboçou um sorriso quando ela a tremer entrou no carro
- Valeu a pena?
Afogou aquela impressão cruel naquela noite, graças ao duche quente e prolongado e depois a uma bebida forte mas a imagem da humanidade no areal desolado ao sabor das ondas e da preguiça envolvente não a deixou mais, nunca mais e nos momentos mais negros volta sempre inexorável para a atormentar e perseguir.
- Somos apenas pobres diabos num mundo em que por vezes Deus parece ausentar-se por instantes.