MEU HERÓI, MEU BANDIDO

O relógio marcava 05:30 da manhã na velha Serpa, bicho do mato e toda a bicharada de Mister Brega saudava a vizinhança, o açougueiro estendia a carne na vitrine, Seu Antônio da feira se arqueava em sua cadeira de balanço a espera de seus amigos, dona Sabá já mexia a panela de mungunzá e seu Dico agasalhava a malha na proa da canoa pra mais um dia de pesca. Até aqui tudo normal para mais uma segunda feira ensolarada se não fosse Justino entrar na estória, ou melhor, na delegacia. Ficha completa: Justino da Consolação. Filiação: Adotado por Maria Esperança Brasil: Profissão: xxxx. Que lhe trás aqui senhor? Vim dar queixa de minha companheira. Como assim, explique isso direito. Minha companheira passou a noite na rua, chegou em casa indagora me xingando, me chamando de vagabundo e com a vassoura na mão me ameaçou que se eu não arrumasse um emprego hoje, ela me colocaria na rua. O Senhor veio atrás de emprego? Não, vim denunciar ela. Ela me agrediu com a vassoura. Eu compreendo sua indignação, mas não podemos registrar a queixa. Por que doutor? Não já uma lei que ampara nós? A Lei Maria da Peia. Você quis dizer Maria da Penha, realmente essa lei existe, mas para proteger as mulheres de maus tratos, quanto ao seu caso... Acho melhor o senhor ir procurar um emprego. Justino decepcionado com a lei de seu país mete a mão no bolso acha duas moedas de cinquenta centavos chama um Mototaxista e pergunta: Quanto é a corrida? Dois reais, responde o Mototáxi. O senhor pode fazer por um real? Como o senhor é o meu primeiro cliente e a coisa não tá fácil, vou fazer, quem sabe não dá sorte, vai pra onde? Me leva pra beirada, vou ver se arrumo um serviço de carregador. O senhor é portuário? Indaga o mototáxi. Sou sim, mas o porto não funciona há anos, dizem que agora sai a reforma. Isso é só promessa de ano eleitoral. Comenta o motoqueiro. Não, diz que agora vai sai mesmo, tem político que tá queimado aqui por causa desse porto, por isso eu digo que vai sair. Nada que uma oncinha não resolva. Novamente comenta o Mototaxi:“Ah agora não é mais assim não, se quiserem voto vão ter que mostrar serviço”, afirma o desempregado. Após viagem pelas ruas esburacadas da cidade finalmente Justino chega ao Jauari. Oferece ajuda a um e a outro, mas ninguém resolve lhe salvar o abrigo, tem vontade de retornar pra casa, logo vem a imagem da mulher na porta com a vassoura na mão, em seguida encontra um amigo de infância. Como vai as coisa Justino? Não vai muito bem não Fabinho. Estou procurando emprego há dias. Não esquenta com isso não companheiro eu acabei de ser despedido da Mil Madeireira, tô nem vendo, já recebi minha rescisão agora tô só curtindo, vamos logo toma uma é que é. Então vamos. Lá pra tantas o amigo chama a atenção de Justino, cara eu te considero pra caramba, e tu sabe que entre agende não há segredo, eu vi tua mulher ontem no CREPI se beijando com o Ricardo. Com o Ricardão! Não acredito, minha mulher está mim traindo com o meu maior inimigo, essa foi demais, o que poderia ser pior? Não quero te bota pra baixo não, amigo, e nem te insinuar nada, teu filhos puxaram todos pra família do Ricardão. Eu tô perdido, sou adotado, estou sem mulher, sem casa, sem filho. Despediu-se do amigo. Poucos minutos depois uma multidão se aglomerava na frente do prédio da antiga Telamazon, ele vai se jogar, gritava os populares, passado alguns minutos já era possível notar a presença de bombeiros, imprensa local e muitos curiosos. Uma pessoa grita é Justino filho adotivo de dona Esperança e do senhor Brasil, em poucos minutos sua mãe chega ao local e se desespera ao ver seu filho na torre ameaçando se jogar, meu filho não faça isso sua mãe te ama. Não mamãe eu quero morrer, em seguida chega um dos filhos. Papai não faça isso. Você não é meu filho, sua mãe me traiu com o Ricardão da padaria. Já passava do meio dia e a negociação não avançava. Quanto mais o tempo passava mais o desespero tomava conta dos familiares. Chega a mulher: Justino, para já com isso desce dessa torre. Não desço, vou me jogar. Parecia que não tinha jeito o rapaz ia mesmo se jogar, inesperadamente um sujeito do nada aparece escalando a torre, quem é esse maluco? Pergunta os populares, deve ser Fabinho seu melhor amigo. A tensão aumentava porque não era Fabinho e sim Ricardo, agora lascou-se, tá tudo perdido relata Fabinho que acabara de chegar. Por favor, alguém impeça esse homem de subir, ele vai empurrar meu filho, Fabinho, faça alguma coisa. Tarde demais disse o policial. Justino e Ricardão estavam frente a frente. Ricardo! Você aqui? Não sabia que você se importava comigo, agora não adianta pedir desculpas, vou me jogar. Dá um passo a frente, olha a grande distancia até o solo. Ricardão solta uma gargalhada: Justino, eu não vim aqui porque gosto de você, vim aqui, porque quero ver tua derrota, porque quero ver você se espatifar no chão. Vou ficar com a tua mulher e mandar na tua casa, vou ficar com tudo que é teu. Imediatamente o candidato a suicida vira para o amante aponta o dedo saliente na cara do padeiro e diz: tá aqui o que eu vou te dar esse gostinho. Desceu da torre imediatamente desistindo do suicídio só pra não satisfazer a vontade do inimigo.