DIA DA CAÇA

Mulher, tô saindo. Já vai marido? Cuidado. Faca na cintura, espingarda a tira colo e com lanterna á mão, o marido se despede da mulher rumo à mata aos arredores da Mil Madeireira em busca de uma noite de trabalho, se tivesse que escolher entre um dia de coivara e uma madrugada em cima das árvores, não tinha dúvida, sua preferência era certa, quem sabe uma Paca ou Cutia, se nem uma das duas pra não perder a viagem um Macaco não escapava, isso era quase sempre no período em que os órgãos ambientalistas eram mais liberais e no tempo em que não conhecíamos a expressão “extinção”, recordações a parte, agora os tempos são outros, não demorou muito e Bené já estava matando carapanã alturas acima, lá pra tantas o sono veio e o moço não aguentou, dormiu, acordou, e nada da caça aparecer, mudou de posição, com a lanterna, focou pro um lado, focou pro outro e nada, “não é possível todo dia vejo rastro dela aqui e justamente hoje ela não aparece”, eu sei que hoje ela não me escapa, se aquietou, resolveu esperar mais um pouco. Enquanto isso a mulher de Bené vai até o jiral da casa e comenta com Celestino. “a lua está quase virando é melhor você ir embora; Bené deve tá pintando”. Celestino mais que depressa pega seu pertences e some na mata adentro. Depois da espera sem sucesso, Bené resolver atar sua rede em outra árvore próxima a extrema de se Celestino, chap, chap, chap, chap, inesperadamente um estrondo... pou...um silêncio tomou conta da mata fria, enquanto isso a mulher faceira já quase retomando o sono perdido, desperta e começa a conjecturar... “Pela hora não deve ser caça boa”, o sono não vem, levanta olha as crianças, faz um afago no mais novo, leva a vista pela janela da varanda e nada, “o dia já vem raiando e nada de Bené”, pensa ela, a mulher desconfiada e tensa resolve passar o café, não se contendo, chama o filho mais velho e pede que vá a procura do pai na esperança de que a caça seja enorme e Bené estivesse tendo dificuldade para removê-la até o terreiro, inesperadamente o garoto chega assustado chamando pela mãe, “mãe...!? mãããe...!?, mãããe...!?, mãããe...!?” “o que foi menino? Que desespero é esse? Parece que tá com o pai na forca”, o menino tentando explicar “na forca não, mas na armadilha que seu Celestino fez,” desesperada a mulher começa a se sentir culpada pela possível desgraça, “indagora mesmo eu disse pro Celestino que isso não ia dar certo”, semi vestida corre até o lugar onde o marido se encontrava esvaindo em dor rolando na folhagem debaixo ao pé uixizeiro, chegando perto disse: “Marido me perdoa por ter te traído com Celestino eu juro que isso não vai mais acontecer, Bené surpreso com o que ouvi, sente dupla dor, a segunda lhe causa mais sofre do que a primeira, a mulher na verdade se precipitou ao contar que traia o marido com o vizinho Celestino, o fato é que Celestino durante o dia armou um Cravinote para pegar a danada da caça que rondava as duas propriedades e esqueceu de avisar Bené vitimado por alguns chumbos no calcanhar de Aquiles. Bené com coração e o pé ferido reconhece, “hoje foi o dia da caça, mas vamos ver quem rir por último”

Joanilson Mendes
Enviado por Joanilson Mendes em 04/07/2019
Reeditado em 04/07/2019
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