Dorinha e o Pecado Ambulante

Era um casamento estável, amor mesmo. Viviam em paz, criavam os filhos, ainda menores e apesar de mai de dez anos de vida em comum, a chama da paixão ainda não se extinguira, até que apareceu Dorinha, uma morena tipo Capitu, olhos de cigana malandra, um verdadeiro pecado ambulante. Chegou de um estado vizinho, sobrinha e criada como filha de um chefe de repartição transferido para aquela cidade. Acontece que essa morena era também funcionária da repartição onde trabalhava Miltinho, o esposo fiel, ela foi trabalhar no birô vizinho ao dele. Foi tiro e queda, das conversas animadas passaram para as confidências e destas para os perigosos tapinhas nos ombros, aquela camaradagem exagerada. Dorinha era escolada, com um currículo extenso de conquistas, especialista principalmente em desnortear carinhas sérios que nem Miltinho,devotado ao lar e à mulher... Miltinho era até apelidado pelos amigos de "ferrolho", homem de ua só mulher, a sua Ritinha. Era porque apaixonou-se perdidamente pela colega cor de jambo. Mas não haviam ainda chegado aos finalmentes, chegaram apenas aos amassos e beijos em intervalos para o almoço na própria repartição quando estava vazia, precisava, portanto, como ela dizia criar uma oportunidade para tirarem o pé da lama, sugeriu uma viagem a Caruaru, lá tinha uma amiga que possuía uma quitinete. So que uma servente que troava as garrafas de café flagrou os amassos e a combinação da viagem. Não deu outra, bateu a caixa para Dorinha, contou tudo inclusive o detalhe referente a Caruaru. Dorinha era calma, educada, tranquila mas pisassem nos calos dela virarava um siri de braba.

Quando chegou a noitinha, Miltinho chegou em casa, meio cabreiro, mas determinado. Tomou banho e se preparou para jantar, antes de botar a colher na sopa, avisou a Dorinha que na sexta-feira à noite teria que viajar para Caruaru, iria a uma reunião geral da repartição, um novo sistema que seria implantado. Dorinha ouviu calmamente e disse a ele como se estivesse comunicando algo referente à casa e aos filhos: "Pode ir, meu bem, mas será melhor não voltar e nem dormir mais na nossa cama porque se fizer isso depois que trepar com aquela quenga da repartição - aí mostrou a ele uma faca peixeira amolada dos dois lados - eu lhe capo, você vira boi de carro. Miltinho tomou um choque, foi incapaz de pegar na colher para tomar a sopa. Sabia que a esposa faria isso. Tremeu na base. Desistiu na hora da excursão a Caruaru. Daí em diante o pecado ambulante virou apenas colega da repartição com quem falava somente o essencial sobre o serviço. Esta deduziu o que acontecera quando a servente a advertiu: "Deixe Miltinho de lado, a mulher dele não é de brincadeira, você pode deixar de ser bonita".

Tempo depois a morena e o chefe da repartição foram para outra cidade. E Miltinho continuou a viver normalmente, só lembra da morena quando ouve a múica Pecado Ambulante. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 02/07/2019
Código do texto: T6686428
Classificação de conteúdo: seguro