Eu só quero ir ao banheiro
Juninho é um sujeito muito querido na cidade. Não é muito novo, mas com idade não tanto avançada. Gosta muito de cativar as pessoas ao seu redor. É viúvo e tem dois filhos, que moram no exterior. É bastante querido por onde passa e sempre tem uma conversinha para cada um que se aproxima.
Certo dia, no pátio da escola, a única da cidade, ele foi convidado de honra. A festa é uma animada quadrilha junina, envolvendo apresentações de vários alunos e números variados, incluindo jogos de bingo, correio elegante, sem falar nas comidas típicas da festa: churrasquinho, pipoca, cachorro quente, amendoim torrado e outras. Ele, porém, muito seguidor da natureza, não come nada disto, alimenta somente o essencial para viver bem. Foi convidado para ser o apresentador da festa.
Muito elegante, com um sorriso bem bonito nos lábios, trajou-se de uma roupa bem bonita. Um chapéu de palha na cabeça, algumas palhas nos bolsos, remendos nas partes do corpo e calçado de uma botina. Lá se foi e alegrava todos que ali chegavam.
- Vamos apreciar as comidas típicas de nossa escola. Tem cachorro quente por um preço bem pequeno.
- Para a garotada, um copo de refrigerante bem geladinho.
- Tem pipoca e amendoim torrado.
- Os alunos da professora Tereza vão apresentar a dança da chuva.
Por cerca de duas horas e meia, Juninho anima a festa e fazia os anúncios. Os convidados, os pais dos alunos e o público em geral o aplaudiam e comentavam entre si que ele estava no topo das apresentações. Estava bem melhor do que o locutor na rádio local.
O tempo seguia e ainda faltavam várias apresentações. Juninho precisava ir ao banheiro, mas não podia sair. Os números estavam sendo apresentados rapidamente e mal tinha tempo suficiente para dar uma pausa e ir ao tão sonhado banheiro.
Finalmente a festa terminou e ele poderia ir rapidamente ao banheiro, pois estava muito necessitado.
Assim que desligou o som, Juninho saiu apressado e foi logo interrompido pela diretora, que o cumprimentou com um forte abraço e dizendo que a apresentação foi linda. Traçou novos planos e várias conversas foram feitas entre os dois, porém Juninho queria escapar, mas ela não o deixava ir. Sempre mais uma conversa, sempre mais um assunto e lhe custou quase dez minutos.
Quando se livrou da diretora, saiu ele disparado rumo ao banheiro, mas menos de seis passos, viu-se parado novamente. Desta vez foi com a conselheira escolar. Fez o mesmo protocolo e sugeriu novos planos para a próxima apresentação. Falou dos enfeites, das roupas das crianças. Mais uma vez perto de quinze minutos.
Novamente, despachou da conselheira e quase trombou com o vigário local. Outra uma vez foi parado e cumprimentado. O padre lhe disse sobre os novos planos da reforma da igreja. Este assunto e outros mais lhe renderam outros quinze a vinte minutos.
Saiu novamente desesperado, pois a necessidade estava muita e mal conseguia falar e o pensamento era somente para o banheiro. Sentia até arrepios e a vontade do uso do banheiro.
Quando faltavam uns dez metros para encontrar o banheiro, Juninho foi surpreendido por serviçais, que lhe pediram para ajudar a levar algumas cadeiras. Um tempo estimado de pelo menos doze a quinze minutos.
Desesperado, saiu quase correndo e foi novamente parado pelo auxiliar de cozinha, que lhe solicitava ajuda para carregar vasilhames e panelas. Outros dez minutos se passaram e Juninho não via nada a sua frente, a não ser o banheiro.
Nervoso, com o rosto vermelhado, saiu andando depressa até o banheiro.
O eletricista lhe pediu para segurar algumas ferramentas e lhe custou outros dez a quinze minutos.
Quase desmaiando de vontade, os olhos querendo sair lágrimas de raiva, Juninho sai disparado. Faltavam pouco mais de quatro metros e o banheiro já era visível. Por sua surpresa, dois pais de alunos lhe interrompem e fazem uma série de exigências para o próximo ano. Diziam que a roupa dele não estava tão adequada para as festividades no próximo ano, eles queriam fazer um novo figurino e seria de acordo com o tema da festa. Outros dez minutos se passavam e Juninho não falava e não pensava noutra coisa a não ser o banheiro.
As luzes estavam piscando e novamente o eletricista lhe chama para ajudar-lhe.
O tempo ia passando e a vontade apertava cada vez mais e Juninho não podia fazer mais nada. Precisava muito do banheiro e pensava que estava prestes a sentir-se mal.
Mais uns quinze minutos. Finalmente ele chega ao banheiro. Os olhos brilhavam de alegria. Era felicidade e já estava perto de realizar o sonho e a vontade do uso do banheiro. Chegou, mas a surpresa foi grande, quando a funcionária lhe disse que o banheiro estava estragado. Ficou todo inundado, pois dois canos estouraram e o uso do banheiro foi interrompido. Existia somente aquele banheiro para uso.
Desapontado, Juninho nem imaginou, mas a necessidade era tão grande que ele encostou na parede, fechou os olhos e sentiu o calor a urina descendo perna abaixo.