CALAFRIO.
Eu estava morrendo aos poucos. Aquela agonia que saia do meu estomago e se expelia pela minha boca como um jato de ódio e rancor dentro do banheiro de um bar. Eu matei minhas borboletas que tinham como moradia minha barriga, matei meu oxigênio puro com a nicotina de meus cigarros, matei minha alma com a solidão que eu mesma escolhi ter.
Naquela mesa de um bar qualquer, em cada intervalo de uma golada de vodka eu sentia meu fígado morrendo. A cada intervalo de tragadas eu sentia meu pulmão ficar escuro, sem cor. As luzes do pequeno palco estavam se movimentando lentamente. A mulher cantando estava calada. Os dançarinos dançando estavam parados. O cara careca que estava surrando devagar o cara de cabelos castanhos, parou e reparou em meu próprio mal.
Tudo ficou preto, não enxerguei mais nada, não senti minha respiração, não senti o calor do lugar. Senti frio e medo. Estava com os olhos fechados, mas sentia-os como se estivessem arregalados. Não escutei som nenhum apesar de que tinha alguém gritando dentro de mim. A pancada da minha cabeça no chão não me causou dor. As mãos que me carregaram não me causaram alívio. A entrada na ambulância não me causou calma.
Eu estava indo.
Eu estou indo.
Eu fui.
Não se preocupe, eu quis isso, eu me matei, eu matei a mim mesma.